23/09/08 (Terça) – Bahia Blanca / Buenos Aires – 689km
















Eu menti feião no post anterior! Na verdade, a dúvida sobre Mar del Plata foi nesse dia, a caminho de Buenos Aires, claro! Que anta da geografia...mas tem um desconto, o blog já não acontece em tempo real, algumas coisas começam a sumir da memória. Tanto é verdade, que sobre o dia de hoje eu lembro NADA! Lembro só que nos perdemos duas vezes, a primeira entrando numa vila de litoral, numa região onde há vários balneários, onde os meninos viram uma baleia morta na praia e é claro que eu não vi, como sempre! E depois nos perdemos na direção de Três Arroyos, rolou o maior stress da parte do Sr. Mau Humor, mas depois a gente se achou...Desembocamos em Buenos Aires umas 20:30hs mais ou menos, eu acho, por algum bairro afastado de periferia e depois de muuuuuito trânsito fomos “arremessados” na Av. 9 de julho, considerada a Av. mais larga do mundo, com 120m de largura. Foi no meio desse caos que cheguei à conclusão de que realmente seria impossível conhecermos Buenos Aires dessa vez, precisaríamos de tempo para conhecermos a cidade de metrô e táxi, de carro é impossível! Tentei fotografar o obelisco com seus 67m de altura, que fica no cruzamento com a Av. Corrientes, mas foi impossível. Hoje entendo o que o povo do meio do mato no Rio Grande do Sul me dizia, ano passado. A sensação é como chegar em SP, sem nunca ter vindo pra SP, é desesperador. Assino embaixo o que o amigo Viana do mochileiros já havia dito, deve ser o lugar onde os motoristas mais buzinam no mundo! A gente acha os paulistanos loucos...hehehe...é só ir para Buenos Aires de carro, mudamos de idéia rapidinho. Tentamos achar um hotel ali na 9 de julho mesmo, Corrientes e adjacências, impossível, tudo lotado, também, pudera, com a cara de mendiga que eu estava, os gerentes deviam achar que eu ia assaltar. Rodamos muito, até o Nano decidir parar o carro num local proibido mesmo e andarmos um pouco a pé, em vão, tudo lotado, só tinha um com vaga, pulgueiro, claro, pela nossa cara, nossas roupas, era o máximo que conseguiríamos, mas decidimos não ficar. Bom, foi então que, por intervenção divina, como sempre, achamos um legalzinho, café da manhã, estacionamento, internet, limpo, perto da Casa Rosada, tudo como deveria ser. Já era bem tarde, estávamos mortos, fizemos alguma coisa pra comer no quarto mesmo e fomos dormir. No dia seguinte pretendíamos sair da Argentina, será que conseguiríamos sair de Buenos Aires?

22/09/08 (Segunda) – Puerto Madryn / Bahia Blanca – 768km










































































































Ecologicamente falando, a única coisa que tinha faltado na nossa viagem eram as Baleias, nem de longe conseguimos avistá-las na Península, mas tudo bem, não chegava a ser uma reclamação, tínhamos estado em tantos paraísos, vivido tantas aventuras, as Baleias ficariam para uma outra oportunidade....ãh ãh, ledo engano, despretenciosamente nós só não as vimos, como também ganhamos um showzinho particular!
Não precisávamos acordar muito cedo, pois não podíamos sair de Madryn sem cambiar, e como na Argentina tudo abre “cedo”, a casa de câmbio só começava funcionar às 09:30hs...O Nano a todo momento gostava de lembrar que estávamos ferrados, a distância até Bahia Blanca era longa e também começávamos a ficar meio mal humorados, fim de viagem, cansaço, muita estrada, os próximos dois dias, ou melhor, todos os dias, até chegarmos em casa, seriam só de estrada! Sem passeios! Tínhamos decidido assim, Buenos Aires só de passagem, Uruguai também, estávamos preocupados com o retorno ao trabalho e queríamos nos garantir.
Chegamos à casa de câmbio às 09:00, ainda faltava meia hora mais um minuto pra abrir, então resolvemos passear pela Orla, um calçadão bem gostoso de se caminhar, ar puro da manhã, como disse anteriormente, Puerto Madryn lembra algumas de nossas cidades litorâneas, a não ser, claro, pelas Baleias! Foi assim que as vimos, estávamos na mureta da praia, olhando ao horizonte, pensando na vida, quando vimos aqueles rabos dançando fora d’água....afeee...mais uma emoção num dia que tinha tudo pra ser monótono. Ficamos ali um tempão, hipnotizados pelo show delas, eram duas, bem na praia, pertinho de nós, um espetáculo de Baleias Francas Autrais. Só saímos dali quando elas se afastaram para alto mar, ainda demos mais uma volta no calçadão, onde vimos árvores entalhadas, verdadeiras obras de arte, feitas nas próprias árvores que ficam na calçada. Cambiamos poucos pesos, pois tínhamos só mais dois dias na Argentina e não queríamos perder dinheiro (ai, ai, ai)...Na estrada, sem novidades, muito sono, muita música, muita conversa. Em determinado momento tínhamos que decidir se íamos por Mar del Plata e optamos por não ir, pois nos acrescentaria mais 250km e não podíamos nos dar esse luxo. Continuamos pela ruta 3 , onde víamos muitas plantações de girassóis e geradores aeólicos de energia, uma bela paisagem. Chegando em Bahia Blanca erramos a entrada na rotonda e chegamos na Petrobrás, enorme, mas só tinha ela onde nossa vista alcançasse, o que nos desesperou, mais uma cidade sem hotéis!...Resolvemos voltar pra estrada e ver se era isso mesmo, achamos outra entrada e finalmente chegamos à cidade por volta das 18:30hs, cada vez mais cansados, decidimos ficar no primeiro hotel que vimos pela frente, um 4 estrelas, que lhe cabia bem o ditado “por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”, quartos antigos, com carpete, ótimo pra quem tem rinite, mas era limpo e confortável, tinha um piano bar que não me interessava nem um pouco, eu estava com uma enxaqueca ferrada nesse dia e saí pra comer quase chorando, ainda assim, observando a cidade meio de rabo de olho, gostei bem do lugar, cidade pequena, mas com boa infra, por ser um pólo petroquímico, com vários barzinhos num calçadão, ficamos num desses e comemos uma pizza, a animação do Nano nesse dia me irritava, eu não conseguia nem abrir os olhos, precisava tomar um remédio e dormir.

21/09/08 (Domingo) – Puerto Madryn / Península Valdez / Puerto Madryn – 410km



























































































































































































































































































































































































O relógio despertou às sete, mas ninguém se mexeu. Eu estava ansiosa, mas exausta e diante do sono pesado do Nano e do Pablo, me entreguei de novo. Acabamos acordando meio tarde e o Nano teve pressa pra ir tomar café, afinal, segundo ele, já “estava combinado desde ontem que iríamos para a Península”, então achei melhor correr antes que ele mudasse de idéia. Passamos antes no Centro de Informações Turísticas para descobrir como se chegava lá e pegar alguns mapas...nós só não imaginávamos que a mocinha tinha esquecido de nos dar a principal informação. Só até a Península eram 100km, mais 250km (de pedra) para percorrer a Península e mais 100km na volta para Puerto Madryn, mas as distâncias tornavam-se cada vez menores para nós, muito, agora, só quando passava de 3 algarismos. Bom, quando já tínhamos percorrido mais da metade do caminho, uns 60km, uma placa gigante informando os valores para entrar na Península....putz, f....eu! Nós não tínhamos dinheiro, lembra? Era domingo, nada de casa de câmbio, lembra?...Tá bom, eu concordo que foi uma falha não termos nos informado antes e nem ter imaginado que se pagava para entrar, sei lá, acho que eu pensava que era só um pedaço de terra, sei lá o que eu pensava, acho que não pensava. Mas na verdade, ainda bem que não descobri isso antes de ir, porque eu não teria ido, não teria feito o que fiz e teria ficado frustrada. Enfim, quando vimos a placa, o Nano soltou o mesmo palavrão que eu, diminuiu a velocidade, vimos um carro cheio de gente parando embaixo da placa, com certeza contando os pesos na carteira também, assim como nós, porque a brincadeira é carinha, viu! Eu tentei contar duas vezes, pra ver se aumentava, rendia, sabe, mas não teve jeito, nós só tínhamos o equivalente à entrada de uma pessoa e meia. Tínhamos duas opções, ou voltávamos para Puerto Madryn, nos enfiávamos no hotel com cara de bunda e todo mundo ia ter agüentar meu bico, ou deixávamos uma pessoa e meia na estrada...hmmmm...nenhuma das duas opções era viável, ta certo que a idéia que tive foi completamente contra a educação que meus queridos pais me deram, mas fazer o que né, eu tinha que tentar ver os gordinhos (pingüins, elefantes e leões marinhos todos são gordinhos, me identifico com eles), foi quando resolvi “pedir”, sim! Pedir dinheiro! Chorar! Chantagem emocional! Ta aí uma coisa que eu sabia que sabia fazer bem....beicinho! Não é possível que não conseguiria convencer um guarda-parque...Falei para o Nano tocar que eu ia colocar a gente dentro da Península, não custava arriscar, de duas, uma, ou a gente passaria raiva, ou nos divertiríamos, e eu estava bem disposta a me divertir! Ele foi bem legal e até se propôs a me ajudar (era o mínimo né!). Durante os últimos km pensei em tudo que pudesse falar, já me imaginava fora do carro contando uma história exagerada de um assalto, os guarda-parques interessados e sensibilizados, ou dizendo que era repórter no Brasil e queria fazer uma matéria, mas nada me parecia convincente, então resolvi falar a verdade, exagerar um pouco e fazer beicinho, claro! A portaria é como um pedágio, isso não me dava muita liberdade de ação. Paramos na fila de carros e o Nano me disse: “Hora de agir Isabela, já pensou no que vai dizer?” Na hora eu percebi o quanto tinha sido burra! Era só eu e o Pablo termos nos enfiado no porta-malas e teríamos entrado sem nenhum problema, que anta! O Nano disse, “tarde demais, agora é no xaveco”...chegou nossa vez e foi ele quem começou o teatro, a mocinha disse o preço, ele pegou a carteira, fingiu que estava contando o dinheiro...putz, que vontade de rir e que vergonha ao mesmo tempo...e a pergunta ridícula, mas tinha que ser feita, nunca se sabe, afinal, as propagandas do Mastercard prometem que ele é aceito em lugares inóspitos...rs...”Aceitam tarjetas?” Claro que não! Daí o Nano tentou desfiar uma conversa pra cima da menina, que nós não sabíamos, ficamos sem dinheiro por causa do fim de semana, blá, blá, blá, ela foi super simpática, entendia tudo perfeitamente, claro, mas não podia fazer nada, claro, sim, claro....Daí a gente revezou e eu comecei: “Mira, chica!”...Quase pedindo pelo amor de Deus (cara de pau) não custava nada ela nos cobrar o preço para Argentinos, que era bem menor, e o de provincianos então, simbólico! Ou aceitavam todos os nossos pesos, equivalente a entrada de uma pessoa e meia para estrangeiros...rs...Ela começou a ficar desconcertada com a situação, tinha uma fila de carros se formando atrás, ela não queria ser indelicada, então nos deu a possibilidade de passar a portaria e parar na casa dos guarda-faunas para conversar com seu superior, só ele poderia liberar...beleza! Eu só não imaginava que o cara era o cão! O chefe, um careca, irredutível! Não teve chantagem emocional, beicinho, manha, nada que dobrasse o cara no meio! Não adiantou explicarmos que não poderíamos aguardar até segunda porque tínhamos prazos no Brasil, não adiantou oferecer os pesos que tínhamos mais reais, que valem bem mais que o dinheiro deles, não adiantou eu inventar que tinha vindo do Brasil só para ver os pingüins que ele guardava....o careca foi mau, muito mau com as nossas pessoas, eu fiquei p..., com muita raiva, virei as costas, saí chutando as pedras e xingando ele no caminho até o carro...O Nano e o Pablo ainda conversaram mais um pouco com ele, fazendo uma social, mas pra isso eu sou mal educada mesmo, bati a porta do carro e fiquei de cara feia (mais). Dane-se o careca, ele não serve pra mais nada mesmo, pra que eu vou continuar olhando pra essa cara de cocô? O corno ainda deu uma de “não confio em vocês” e ficou anotando a placa do carro (sempre com cara de cocô tá), deu um toque para o segurança, para terem certeza que sairíamos do parque e não tentaríamos seguir...isso, porque o Nano tinha sido super simpático com o cara, agradecido e tudo! Demos meia volta, eles foram nos acompanhando com os olhos e quando paramos na cancela para sair, eles não abriam! Áh não! Qual é hein?! Além de não ter um pingo de boa vontade, os caras ainda não iam deixar a gente sair?! Só faltava essa agora...ainda bem que eu tinha o telefone de todas as Embaixadas, nunca se sabe onde se pode arrumar uma confusãozinha né....Poxa, lembrei de uma história agora que um amigo me contou numa festa esse fds, nada a ver com essa aqui, mas é legal...Um cara viajou assim, pelo mundo, de mochila, mas muitas vezes mais louco que a gente, entrou em várias frias, ficou ilegal em vários países, num deles foi preso, o pai teve que mandar dinheiro do Brasil pra ele poder voltar, os caras foram legais, soltavam ele com essa garantia, foi alguma coisa assim, ele deu um baile em todo mundo e usou a grana pra viajar pela China...rs...no fim da viagem, quando já estava no Brasil, pegou carona com um caminhoneiro, acho que em Goiás, o caminhoneiro tinha vários papagaios...não preciso nem dizer né, o mochileiro foi preso, depois de um ano fazendo besteira em tudo quanto é país, aqui, no Brasil, perto de casa, por tráfico de animais silvestres...Bom, voltando à nossa história, veio um cara na janela do carro, acompanhado de uma menina conversar com a gente, estavam com uniformes de guarda-faunas, o mesmo do careca, e queriam confirmar o que tinha acontecido, mas que coisa, isso não tinha fim? Áhhhh tinha, e ainda por cima um final feliz! O casal de guarda-faunas simplesmente queria trocar todos os pesos que tinham nas suas carteiras pelos nossos reais! Eles ficaram sabendo da nossa história, o negócio já tinham repercutido, e não queriam que a gente fosse embora sem conhecer o parque....eita, mas o careca estava tentando morder o cotovelo assistindo tudo lá do outro lado! Eles nem quiseram consultar a internet pra ver a cotação do dia, simplesmente acreditaram na minha palavra, uma pena pra eles, confesso, não por maldade minha, mas eu não sabia quanto estava a cotação em Puerto Madryn, deixei isso claro, eu sabia a cotação da última vez que tinha cambiado, mas na segunda, quando fui a uma casa de câmbio em Madryn, vi que eles perderiam uns trocados, uma pena, eles foram muuuuito legais! Mais uma vez demos a volta na portaria, dessa vez do lado contrário, a menina da casinha tipo pedágio tomou um susto e o Nano balançou a grana no ar pra ela ver e disse: “Conseguimos mocinha!” Ela se matou de rir e finalmente nos deu os ingressos.
A beleza da Península não é descritível por palavras, nada parecido com nenhuma paisagem que já tenhamos visto no Brasil. Primeiro conhecemos Puerto Pyramides, uma cidadezinha dentro da Península, com toda infra de restaurantes e pousadas, mas bem acolhedora. O mar de um azul e verde que doem os olhos, com formações de rocha e areia incríveis que invadem o mar. Almoçamos por lá, num barzinho bem aconchegante a beira-mar, onde assistíamos numa tv de plasma o passeio de barco que sai dali para avistar as baleias francas austrais...e depois de assistirmos umas 2 vezes o mesmo dvd, decidimos que não faríamos o passeio, era muito monótono. Seguiríamos navegando com a Cata mesmo, pelas estradas de rípio, vendo o que desse pra ver...E não foi pouco hein! Que aventura! Uma baita emoção ver os leões e elefantes marinhos tão de perto! O Pablo sofria, dizia que não queria mais ficar olhando, porque a anatomia deles é injusta...rs...e os caras sofrem mesmo, gordos, muito gordos, com minúsculas nadadeiras, mal conseguem se arrastar pela areia, conversam o tempo todo, latem, brigam! São muito engraçados...Um deles, com seu filhote, não parava de conversar e jogar pedras nas costas, para se coçar, é demais! Os pingüins então, nem se fala...vê-los assim, em seu habitat natural, não tem preço! Não resisti e me aproximei muuuito deles...um deles veio todo gordinho e safado se esticando na minha direção, querendo abocanhar uma sardinha que não existia, quase perdi a ponta do dedo...rs. Conseguimos percorrer toda a Península, só não passamos pelas salinas, pois não dava mais tempo, no percurso de volta o Sol já estava no horizonte, não teríamos luz para vê-las. Passando de novo pela portaria, eu me preparei para fazer uma bela banana para o careca, mas já era tarde e ele não estava mais lá. Ainda passamos no mercado para comprar umas porcarias e reaver um chocolate que havíamos deixado lá no dia anterior...mandei pra dentro uma bela sopa no quarto do hotel mesmo.

20/09/08 (Sábado) – Puerto San Julian / Puerto Madryn – 875km











Saímos “vazados” de Puerto San Julian, uma pena, queria ter tido tempo de conhecer um pouco San Julian, só o que vi foi a “Nao” que fica numa praça, em comemoração aos 500 anos do descobrimento da América, na noite anterior, procurando hotel, não tirei nem uma fotinho. Abastecemos e pé na estrada...no posto, nos demos conta (ou melhor, o Nano) que estávamos ficando sem pesos, áh, como ele me deixou feliz! Nós precisávamos cambiar urgente, chegaríamos em Puerto Madryn à noite, sem acesso a casa de câmbio e independente de outros métodos de pagamento precisávamos de moeda corrente. A próxima cidade grande, ou melhor, a única, era Comodoro Rivadavia, eca!, de novo esse lugar de furacão?! Não tinha remédio, era lá ou SEM pesos. Chegamos por volta das 14:00, já mortos de fome, mas fomos rodar em busca de uma bendita casa de câmbio. Pergunta aqui, pergunta ali, roda, se perde, dá várias voltas no mesmo quarteirão e consegue-se chegar á bendita casa de câmbio. Parecia estar fechada, mas nesses dias eu já andava tão retardada que demorou pra cair a ficha...Vi na plaquinha: ”De lunes a viernes 08:30hs às 14:00hs”! Carajo! Faltava 1 minuto para às 14:00hs, maravilha!!! Eu tentei sair correndo do carro quando tive um estalo....Claro, se fosse de lunes a viernes! Era sábado! Ninguém contou pra gente que era sábado! Sacanagem hein...Nossa, só então me dei conta do quanto estávamos retardados, perdidos no tempo, sem saber de nada o que se passava no mundo, QUE DELÍCIA! (Queria viver sempre assim). Depois da frustração fomos procurar um posto de gasolina e algum lugar pra comer, que aceitasse tarjetas, agora nossa única forma de pagamento, tínhamos alguns pesos ainda, mas era bom guardar até conseguirmos cambiar. No posto, me lembrei que em Comodoro tinha aeroporto...que gênio! Aeroporto = casa de câmbio!...Nada de comer, vamos ao aeroporto, primeiro a grana...uns 12km de onde estávamos, nos perdemos um pouquinho e chegamos ao aeroporto...que piada!...rs...Um predinho fantasma! Fui sozinha, me deu medo...ninguém nos balcões das operadoras, ninguém no embarque/desembarque, ninguém em lugar nenhum! Vi dois caras conversando, nas poltronas de espera, perguntei se eram passageiros, se sabiam sobre a existência de uma casa de câmbio...e eles me disseram que tinham morrido em 1923, num incêndio, quando caiu um avião no lugar...brincadeirinha....eram funcionários e só faltou rirem da minha cara. Nada feito no aeroporto, já estávamos longe do centro de Comodoro, no caminho certo para Puerto Madryn, não valia a pena voltar para comer...pé na estrada de novo. No caminho, começaram a aparecer as primeiras falésias e mais uma vez a forte presença do petróleo, dessa vez nas plataformas no mar. Chegamos em Puerto Madryn umas 20:00hs e sentimos a diferença de temperatura pela primeira vez em tantos dias, um bafo quente. Não estava mais do que 19º, mas ficamos com muito calor. Adoramos a noite da cidade, movimentada, iluminada, bem parecida com algumas das nossas cidades litorâneas. E como toda cidade agitada de litoral, sábado à noite os hotéis estão lotados...áh, não, de novo isso, ta virando moda...Depois de uns 3 hotéis, achamos um apart, muito legal, enorme para nós 3 e com o preço que acompanhava o tamanho do ap, o Nano já queria tirar as malas, mas convenci ele a darmos uma volta em só mais um quarteirão. Achei um hostel bem legal, mas não aceitavam cartão e queríamos guardar os poucos pesos que nos restava...Então achamos um hotelzinho bacana, limpo, dormível, mas sem internet. Resolvi não pagar o dobro do preço para ter internet no apart, o blog já estava atrasado mesmo. Ainda arrumei umas fotos, assistimos alguns vídeos, conversamos um montão (era a hora de tentar convencer o Nano da Península Valdez, se a lavagem cerebral fosse feita na hora certa, ele dormiria sonhando com pingüins e leões marinhos e nem se importaria com os 250KM DE RÍPIO, áh, uma bobagem, só um detalhezinho), ainda cozinhamos um miojo, eles saíram para achar um locutório (foi impossível pela hora) e depois de tomar um banho demorado pra tirar o atraso, fui dormir quase 2:00hs torcendo para o Nano abraçar a idéia da Península (mas só de ele ter falado “vamos ver, vamos ver” eu sabia que estava ganho).

19/09/08 (Sexta) – Ushuaia / Puerto San Julian – 936km





































Hoje sim, efetivamente começaríamos uma nova viagem, talvez não tão emocionante, porém não menos interessante que a descida. Começaríamos a subir rumo ao Brasil, pátria querida. Como no dia anterior não nos cansamos muito, pois não estávamos na estrada, curtimos a tranqüilidade da hospedage à noite e dormimos um pouco mais cedo, o que nos permitiu sair também um pouco mais cedo e era muito necessário, pois minha meta era Puerto San Julian, uns 950km de Ushuaia, mas teríamos que atravessar os Andes mais uma vez, pegar muita estrada de rípio em baixa velocidade, aguardar o ferry boat, atravessar o Estreito de Magalhães, o querido! E passar por somente e nada mais do que 4 ADUANAS!...Mas meta é meta! Nosso tempo era curto e não nos dávamos mais o direito de abrir “exceções” (a não ser por uma em especial que eu ainda tinha em mente, mas ainda teria que desfiar minha lábia em cima do Nano).
Adeus Ushuaia, cidade do fim do mundo, ainda volto aqui para visitar a Antártida, me aguarde!
Na volta, ainda passamos nos Lagos Fagnano e Escondido, cartões postais de Ushuaia e no Fagnano, tivemos a agradável surpresa de encontrar uma “guia”, e o melhor, serviço gratuito! Uma cadela muito fofa, como todas do mundo, que nos recepcionou na descida do carro, nos levou até seu filhote “um gatinho”! (Pasmém) E depois nos mostrou o Lago, nos acompanhou pela margem, depois por um pequeno píer, posou para fotos e despediu-se enquanto lambia seu filhote. Na estrada, aconteceu um episódio que estava se repetindo, mas eu ainda não tinha postado no blog para não preocupar a família...a luz da injeção acesa de novo! Isso tinha acontecido já duas vezes em Bariloche, na subida ao Cerro Catedral e quando estávamos indo embora, mas a diferença é que o carro não perdia força, porém, não ficamos menos tensos por isso. Só que dessa vez, resolvi ter um olhar mais clínico, reparei que o ponteiro da temperatura estava abaixo do último traço, o que não é nada normal, em SP o ponteiro está sempre na metade do caminho, nessa viagem ele andava bem pra baixo, mas nunca tinha reparado cair além do último traço, isso significava, pelo menos na minha cabeça, que a temperatura lá fora estava muito negativa. Fiquei um tempo reparando sem nada dizer ao Nano e resolvi fazer um teste...foi positivo, quando o ponteiro da temperatura subia um pouquinho e passava do último traço, a luz da injeção apagava...ufaaa, era isso?! Falei com o Nano e ele disse que estava reparando na mesma coisa. Hoje, penso, foi uma irresponsabilidade não termos comprado líquido anti-congelante, pensávamos, mas sempre enrolamos, não sei como a água do radiador não congelou....mas nós já estávamos nos acostumando com o frio, principalmente depois do que passamos no Torres que, nem sentíamos mais quando estava muito abaixo de zero. Pegamos uma velocidade boa no pavimento, para enfrentar o temível rípio. Aquela burocracia toda pra sair da Argentina e entrar no Chile e vamos nós chacoalhar de novo. Hoje estava mais tranqüilo do que na vinda, quando dirigimos nela à noite, pelo volume de caminhões, agora, pela manhã, tinha bem menos. Não se vê carros pequenos, a Catarina se sobressai, vira atração turística, somente caminhões e caminhonetes (a maioria bem invocadas), mas os motoristas são impiedosos, vêm com muita velocidade e temos que nos proteger do rípio que voa no pára-brisa. Antes de viajar, eu sabia da importância de uma tela protetora, mas não se acha isso no Brasil, além do que, precisaríamos ser milionários e ter todo o tempo do mundo para providenciar tudo o que todo mundo julga necessário. Também, na viagem inteira, não vi nenhum carro com a tela. O Nano foi com todo cuidado possível, sempre dando farol para os motoristas enlouquecidos que vinham em nossa direção, quando, ainda assim não conseguia êxito, ele literalmente jogava a Catarina na frente dos outros carros até que eles reduzissem e junto com suas manobras sempre vinha a frase: ”Devagar filhinho, vai com calma, assim não”....Se passaram 300 carros por nós, 300 vezes ouvi ele dizer isso, já não aguentava mais. E deu certo! Tão certo, que nos últimos 10km, quase chegando no asfalto, um policial fdp chileno louco, numa caminhonete do governo, paga com os impostos do povo, correndo bastante para a marmita não esfriar, fez voar uma pedra no nosso pára-brisa, e como não podia ser diferente, nosso vidro quebrou, claro! Tá, não foi muito, ainda bem, trincou no formato de uma bela “estrela”, mas quebrou, caramba! Atravessamos mais uma vez o Estreito de Magalhães, imaginando a “Trinidad” de Fernão navegando pelas mesmas águas, despedindo-me do canal que une Pacífico com Atlântico...Os campos minados dessa região nos chamam atenção, sempre bem sinalizados, porém, campos minados. Somente resquícios de brigas entre Argentina e Chile ou ainda uma imposição de respeito?
Pé na estrada de novo, segundo o Nano “chega de rípio nessa viagem” (ahhã, ele nem imagina o que o aguarda mais para cima, porém, calma Isabela, tudo se consegue na hora certa, por hora, apenas concorde), mais uma fronteira, dessa vez bem tranqüila, sair do Chile e entrar na Argentina é fácil (áh, se a gente soubesse a dor de cabeça que teria mais pra frente por causa disso). Na Argentina, estava no banheiro de um posto de gasolina, o Nano fazendo guarda na porta, que nunca fecham! Estava saindo quando ouvi uma “argentineti pirigueti” puxando conversa com ele, fiquei esperando pra ver qual era a dela, quando ela soltou um “ai, que lindo!”, saí com tudo e perguntei o que era lindo?...os detalhes deixa pra lá, sem querer ela teve um castiguinho e nós voltamos pra estrada dando boas risadas. Bom, o negócio agora é focar e tentar chegar a Puerto San Julian, eu tinha expectativas para essa cidade...hummm...Chegamos, por volta das 23:00hs, exaustos, famintos, sonhando com um banho, novidade né. Fui direto a um hotel, indicação de um amigo do mochileiros, era 4 estrelas, nós estávamos na contenção de custos, mas não tínhamos condições físicas de ficar rodando a procura de hotel. Porééééém, como cansaço pouco é bobagem, se não tinha vaga no melhor hotel da cidade, imagina nos outros mais baratos! Rodamos muito e nada! No último, acho que o recepcionista ficou com tanta dó ao ver meu estado que, pegou uma lista e ligou em TODOS os hotéis da cidade e é óbvio que TODOS estavam lotados. Fomos informados que chegamos bem no dia da principal festa da cidade e....tome! 365 dias no ano e tínhamos que chegar numa cidade desconhecida, lá pela meia noite justo no dia da bendita festa. Eu tive certeza que dormiríamos no carro, não tinha saída. Mas ele nos propôs umas cabanas, que ficavam na saída da cidade, a coisa era tão de primeira linha, que nem telefone eles tinham para ligarmos dali, beleza, fomos pessoalmente. Lugar esquisito, tipo uns chalés, sem ninguém pra atender, num chute tocamos a capainha de qualquer um e bingo! Lá estava a moça que alugava e seu cachorrinho muito bonitinho, mas com dor de barriga, fazendo cocozinho perto do meu pé, áh, como essas coisas me deixam feliz! Não tinha outro jeito, não tinha pra onde correr, era ali, ou carro. A casinha era um pouco afastada dali e o carro tinha que ficar, então andamos por um terreno, passamos por uma cerca de arame farpado (com as malas, algumas), eu resmungando, o Nano de cara feia pra mim...era uma casinha no fundo de um quintal, na periferia, duas beliches com colchões xexelentos, o box do banheiro xexelento tinha 40cm de largura, juro! A água não esquentava, o Pablo foi a cobaia, uma hora da manhã, frio de lascar, eu e o Nano no stress, quer saber, daqui a pouco me acostumo com essa coisa de não tomar banho, me joguei na cama de cima sem falar com ninguém e bodeei...amanhã é um novo dia!