05/09/08 (Viernes=Sexta) – Mendoza (Argentina) – Santiago (Chile) – 356km


















O dia de hoje não se descreve em palavras nem em imagens. Foi algo que ficou gravado em nossos corações como brasa quente (ou brasa helada?).
Acordamos muito cedo como de costume, eu tinha dormido umas 3 horas no máximo, tentando recuperar o blog. O frio era intenso, estava 3 graus, saímos para tomar café perto do hotel ainda de noite, demorou para amanhecer. Nos perdemos e rodamos muito em Mendoza, a cidade está em obras o que atrapalha um bocado o acesso às principais avenidas. Pegamos a auto estrada em direção ao Chile e eu sabia que atravessaríamos as Cordilheiras e provavelmente veríamos neve nos picos dos Andes. Simultaneamente os 3 ficaram com dor de barriga de ansiedade e tocamos pra frente com toda vontade, devagar e sempre. Desde o problema no carro, decidimos diminuir a velocidade (que já não era alta para as estradas daqui) e temos aproveitado mais.
Não é possível descrever a sensação quando vai se adentrando nas montanhas, cortando-as pelo meio num caminho de curvas, subidas e descidas (porém, muito tranqüilo). Quando começam a aparecer as primeiras imagens de neve nos picos das montanhas, como açúcar salpicado, faltam palavras e o tempo todo 3 vozes em uníssono dizem apenas: “Nooooooooossa”.....”Olha aquilo!”...”Meu Deus!”....Ficamos assim durante um bom tempo, quando o Nano desembestou a falar, falar e falar...Dizia que se sentia como quando tinha visto o mar pela primeira vez, já com oito anos de idade e falava, falava, sobre as coisas da vida, o destino, sobre Deus...o Pablo ficava mesmo com o “noooooooooosa”. Eu, só queria sentir, ver, olhar tudo, até onde minha vista alcançasse, agradecer a Deus em pensamento, reviver os esforços do último ano e pensar, “só por hoje, tudo valeu a pena”. Todos os livros que li, todos os filmes que vi...pensava, “hoje, é a minha história!”...Tudo foi ficando cada vez mais perto, cada vez maior, cada vez cabendo menos num olhar, numa foto...As pontas da vegetação congelada, cada vez mais perto da pista, estava ali, bem pertinho de nós. Até que começou a cair aquela água, uma aguinha, uma chuvinha fina....e um berro do Nano nos despertou do nosso transe....”Carajo...está nevando!!!”...E era! A aguinha foi ficando cada vez mais esquisita...e puff...como veio, foi embora, acabou. Mas a paisagem estava mudando cada vez mais de cor, o marrom das rochas foram diminuindo e tudo foi embranquecendo, embranquecendo, o branco tomando conta...e a euforia também. Não víamos a hora de conseguir parar o carro e tocar naquilo. Foi um momento único, essa hora, ninguém nunca mais tira da gente. Descobrimos que era dura e não fofinha como passamos mais de 30 anos acreditando, descobrimos que era gelada...rs...muito gelada, e que mesmo sem Sol, quase não conseguíamos abrir os olhos sem óculos escuros...descobri que queima, arde, dói e ainda estou sofrendo as conseqüências por ter ficado sem luvas e sem protetor labial (nem no Sol mais monstruoso da Caatinga do Ceará meus lábios ficaram queimados como estão hoje). Descobrimos por exemplo que, absolutamente nada do que nos aconteceu até agora foi em vão ou por acaso, por que não só vimos e tivemos contato com a neve (que era nosso sonho), como atravessamos com a “Catarina”, a corajosa “Catarina”, uma baita nevasca!!!. Estava 6 graus negativos e a euforia era tanta que passamos muuuuuito bem pela nevasca!...A não ser por uma rinite, uns espirros que começaram aqui e ali....Mas depois do banho quente, já nos recuperamos.
Hoje pulo a maior parte dos detalhes, pois a mágica está no ar, nada é mais importante do que as sensações que vivemos hoje.
Termino o post às 0:00hs. na companhia de uma verdadeira armadura de um soldado medieval, que me olha imponente, numa salinha muito agradável de um hotel muito diferente, todo rococó, lindo, do jeito que gosto, em frente a Plaza de Las Armas, em Santiago que, encontramos pois Deus colocou mais um anjo em nosso caminho, um Chileno muy, muy especial... enquanto os meninos desmaiam. Quero me juntar logo à eles, para juntos sonharmos com o que vivemos hoje.