17/09/08 (Quarta) – Puerto Natales / Ushuaia – 860km















































































Acordamos um pouquinho mais tarde nesse dia, já que a partir dali iniciaríamos nosso retorno. Queríamos voltar com calma, dirigir o quanto fosse possível e de preferência dormir em Puerto San Julian, continuaríamos ainda com o mesmo roteiro, apenas pulando Ushuaia (apenas?). A viagem foi tranqüila, mas o vento na região de Punta Arenas é assustador, muito difícil de controlar o carro e dependendo do dia, é tão forte que os guardas nos alertam nos postos, era o caso de hoje. Como começaríamos subir a Argentina, pensei que poderia começar a esquentar e não fiz questão de me agasalhar muito, além disso, queria usar a roupa mais limpa e confortável possível...Catarina limpa, tudo arrumadinho, roupa confortável, vamos começar a segunda parte da nossa viagem, pelo litoral, rumo ao Brasil. Durante a viagem, sempre a mesma paisagem de deserto, muito silêncio, o que nos faz ficar mais tempo com nossas próprias mentes....hmmm, que perigo! Lá vinha aquela “vozinha do além” ...”Puxa, Ushuaia tão pertinho e você vai perder a oportunidade? Ta certo que não dá pra fazer muita coisa lá, por causa da falta de tempo, mas deixar de pisar na cidade do fim do mundo? Deixar de chegar tão perto da Antártida? Pensa bem, o que é 1000zinho km a mais, sendo 400 e tantos km de rípio (ida e volta)? Não cai um raio duas vezes no mesmo lugar, ou, não voa uma pedra duas vezes no mesmo filtro...E pensa bem! Agora é um filtro de metal!” Eu me esforçava pra me distrair e calar essa voz do caramba que ficava me apurrinhando....ainda respondia pra ela: Cala a boca! Ta maluca? O Nano te mata só de você lançar a idéia! Olha, eu juro que me esforcei! Ainda olhava nos mapas e falava pra ele a quilometragem que faltava para Puerto San Julian, sempre tentando calar a voz da Isabela louca. Mas não teve jeito, não segurei a língua e comecei a dar umas espetadinhas de leve....”Que pena né Na? Ushuaia tão pertinho...mas ainda bem que a gente vai voltar aqui, né...um dia claro! Esperava uns 15min e vinha com outra frasezinha, com a voz bem macia “E o Estreito de Magalhães? O que o Fernão descobriu, que dá nome ao nosso blog, que pena que a gente não vai atravessar ele, né? Tudo bem, um dia a gente volta”....Ele foi ficando quieto e pensativo, de vez em quando respondia: “É loucura! Se esse filtro estoura de novo, nós estamos ferrados, não teremos nem como conseguir socorro”....”Claro, Nano! Não faço questão de ir, não! É loucura...mas uma pena, né?”....Daí ele pensava mais uns minutos: “Quantos dias ainda temos?” (sinal positivo)....”Áh, daria tempo sossegado de irmos até lá e voltar a tempo de trabalhar, mas tudo bem, não estou chateada, a gente volta aqui numa próxima, mas dá tempo sim, viu!...”Mas já é tarde, conseguiríamos chegar ainda hoje?”....”Claro! Só tem 2 aduanas, balsa, 230 km de rípio, mas tenho certeza que a gente consegue...mas deixa pra lá, a gente volta outro dia, não vou ficar triste”...Depois de um tempo ele já estava dizendo “Vamos rodar mais um pouco, pensar com calma e mais pra frente a gente decide”...Pronto, convenci! Agora estava fácil arrematar!
Paramos num posto na beira da estrada muito caricato, com 2 bombas de combustível à céu aberto, uma cafeteria bem velha, daquelas que range a porta, o assobio do vento, um lugar mágico. Em questão de segundos o Pablo já estava fora do carro brincando com um bebê todo encapotadinho, com as maçãs do rosto vermelhas, queimadas do vento e dois cachorros lindos. Enquanto tirava fotos, percebi ele num papo entusiasmado com o dono do local e quando nos aproximamos eles estavam conversando em português, o Pablo estava deslumbrado, parecia estar ouvindo uma nova língua. O cara é chileno, mas, morou 20 anos em São Paulo, falava sobre São Bernardo, Santana, a gente se sentiu meio em casa...perguntei o que levou ele a abandonar SP e viver naquele fim de mundo, naquela tranqüilidade, ele me disse que a esposa deu um ultimato e num gesto passou a mão no pescoço “sabe como é, Brasil, muita mulher, caipirinha”...Não tem jeito, até no fim do mundo é a mulher que manda! Seguimos nosso caminho e quando faltavam alguns km para entrada da estrada que vai ao Estreito de Magalhães, o Nano me pergunta: “E aí? Já decidiu? Vamos pra Ushuaia?...faço um charminho “Por mim não, juro que não me chateio, eu gostaria muito, mas se acontece alguma coisa com o carro por causa do rípio, não vou me perdoar”....Então ele pega à direita e vamos nós sentido Estreito de Magalhães, sentido Ushuaia, sentido cidade mais austral do mundo!”
Ainda esperamos um tempão no ferry boat, mais uma meia hora de travessia...Eu, que estava preparada para um friozinho de nada, só de moletom, sofri muito pouco com taaaaanto frio e vento! Terminamos de atravessar o Estreito umas 16:30hs, tínhamos mais 457km até Ushuaia, sendo 230 de rípio....e assim fomos, a uns 40km por hora, como tínhamos decidido que seria, “devagar e sempre”. Não sabíamos que o movimento era tão intenso, muuuitos caminhões, a perder de vista, geralmente em alta velocidade para o tipo de estrada e fazendo muitas pedras voarem no vidro, já tinham me alertado...fora as estilingadas de pedra embaixo do carro, que, mesmo com tanto trânsito de caminhões, não é muito consolidado. Foi tenso. O medo do vidro quebrar ou do filtro romper era constante. Chegamos na fronteira do Chile com a Argentina umas 23:00hs e descobrimos que estava “bem abaixo de zero”, palavras do funcionário de um posto...eu, de moletonzinho, maravilha! Na madrugada atravessamos os Andes mais uma vez e na negritude da noite só enxergávamos os picos nevados que se iluminavam com a lua, pena que minha máquina não capta essas imagens, isso nos tira de qualquer cansaço e sono, por mais fortes que sejam. Chegamos na cidade do fim do mundo por volta das 02:00hs do dia 18/09, aniversário do meu pai, nosso mentor, ídolo e maior incentivador dessa loucura, nesse momento, era o presente que podíamos dar à ele, ter conseguido, ter chegado ao fim do mundo de carro!
Mais uma vez começamos a ter a sensação que seria nossa primeira noite no carro, rodamos a cidade inteira em busca de um hotel e nada, nem no mais chique da cidade tinha vaga, tudo ocupado, sempre! Também começamos a achar que tinha algo de errado, não é temporada, não era possível, eles nos davam a impressão de ficarem com receio, por sermos em 3 e chegarmos de madrugada. Teve um hostel que o recepcionista me atendeu, abriu a porta e disse que só poderia me recepcionar às 7:00, eu fiz que não entendi e ele deixou claro que eu esperasse e voltasse às sete para me dizer se havia disponibilidade ou não (veja bem, ele não estava me dizendo que naquele momento não havia vaga), eu respondi: “Com certeza, dormiremos no carro e às sete eu volto pra você me dizer se tem vaga, só porque você não quer me atender agora, seu inútil”. Já tínhamos passado por uma hospedagem bem bonitinha por sinal, onde eu tinha sido bem atendida por uma moça descalça, mas queríamos achar algum lugar que aceitasse cartão...não teve jeito, era lá ou carro. Quando conhecemos melhor o lugar, nos arrependemos de não ter ficado logo de cara, a casinha era linda, com uma vista incrível da cidade, tudo muito limpo, confortável, aconchegante, igual as “bed and breakfast” aqui do Brasil, com gente acolhedora, simpática e silenciosa. Depois de um bom banho, às 4:00 estava colocando a cabeça no travesseiro....E meu pai ainda não sabia que mudamos os planos e fomos até Ushuaia, é isso, nós tínhamos conseguido!

16/09/08 (Terça) – Torres Del Paine / Puerto Natales – 170km





































Se não foi a pior, foi uma das piores noites de nossas vidas. Não dá pra descrever o quanto se estenderam as horas. Da meia noite às 07:00hs pareceram dias. Passamos a noite inteira tentando fechar o saco de dormir que teimava em abrir, era tudo muito apertado, desconfortável, tudo coçava pela falta de banho, o gelo do chão penetrava nas costas e por todo o corpo. Eu tentava condicionar minha mente, relaxar, mas o maxilar voltava a bater, foi uma luta, eu mandava meu corpo parar, mas ele insistia em tremer inteirinho, já não sentia meus pés de novo. Só foi piorando conforme as horas foram passando. Eu e o Nano deitados com a cabeça para baixo e o Pablo ficou em cima de um calombo de terra e pedras. Eu me sentia um pouquinho “menos pior” quando virava de frente pra ele, mas não é meu lado de dormir e não conseguia ficar por muito tempo, também não conseguia me virar dentro daquele sarcófago e ficava muito mais frio. Pensei em sair da barraca e ficar na fogueira, mas tinha medo do breu, o Nano estava meio em transe, se tremendo inteiro, tentando se virar, eu não sabia o quanto ele estava dormindo e o quanto estava acordado. A vontade de sair dali foi tomando força e me encorajando, ainda bem que estava uma noite linda, com uma lua enorme, nem seria tão assustador assim....claro, não poderia ter sido diferente, ouvi aquele barulho e não podia acreditar....chuva, mas não uma chuvinha, uma chuva torrencial! Juro que se não tivesse passado por isso, não acreditaria se alguém me contasse. O frio que já não dá pra explicar o quanto era frio, conseguiu ficar mais frio ainda! Meu maxilar nunca mais parou de bater e foi dando um nó na mente. Comecei a pensar que ia ter hipotermia, que perderia pelo menos um dos meus dedinhos...rs...que não ia amanhecer nunca mais! Quando já não suportava mais nada e estava meio xarope da cabeça, percebi que o Nano dormia profundamente, e ouvi roncos do Pablo lá da outra barraca! Será possível?! Meu desespero aumentou e sentei, como uma louca, parecendo uma mendiga, com os cabelos absurdamente duros, empoeirados e embaraçados, fiquei me balançando e dando uns tapinhas no plástico da barraca pra ver as gotas escorrerem, mas elas não escorriam, isso significava que estavam virando gelo e que estava alguns graus abaixo de zero, pelo menos uma hora se passou assim, olhando para o relógio e contando segundo a segundo Daí pirei de vez, beliscava os dedos dos pés e ouvia “sons” vindo da barraca do Pablo, ele não roncava mais, “parecia” chorar, eu achava que se existe uma crise de estafa, era isso que estava acontecendo comigo, pensava que o Pablo estava passando mal e tendo hipotermia, achava o Nano quieto demais naquela posição de morto e verifiquei se ele estava respirando (olha a que ponto chega a loucura). Me mexia, me coçava, fazia barulho pra ver se ele acordava e nada. Faltavam 15 minutos para às sete, eu não queria acordá-lo só por acordá-lo, então adiantei o relógio alguns minutos e coloquei pra despertar bem na orelha dele, pelo menos ele não ficaria bravo comigo. Ele acordou, sentou e tomou um susto quando viu a louca, disse que meu estado era deplorável. Eu não queria nem falar mais. Percebemos que a chuva tinha entrado e a barraca e os sacos estavam molhados por dentro, Meu Deus, que frio! Enfiar os pés dentro daquelas meias e botas molhadas era meu pior castigo. Desde que percebi que a situação ia ficar feia no dia anterior, fiz um coque no cabelo e nunca mais mexi nele, àquilo estava de arrancar o dedo de qualquer um. O cheiro de fogueira e gasolina em nós dois dentro da barraca era insuportável e ainda não tínhamos tomado banho! Enrolamos nossos sacos, e pegamos a trilha para o refúgio, o Pablo ficava para trás, parado, tremendo de frio. Ninguém tinha acordado ainda, ficamos debruçados na mesa onde é servido o café, esperando, ainda bem que ali os hóspedes não dão muita importância pra aparência. Mesmo com o estômago tão vazio, eu não conseguia comer. Quando veio aquela aveia mergulhada num leite fervendo então, áh, que nojo! Mas é a dieta para os trekkers agüentarem o dia. Tinha uma salinha que chamavam de living, com uma rede, dois pufes, uma pequena lareira e várias meias podres de chulé espalhadas, garrafas de vinho vazias esquecidas da noite anterior...o Pablo se ajeitou no chão mesmo, eu e o Nano petrificamos num pufe perto da lareira esperando o mecânico. Depois das 8:30 passada foi que ele fez um contato por rádio com o cara do refúgio, tentando entender o que aconteceu e onde estava o carro. Já avisou o preço, que não era barato, claro! Para não chorarmos depois. Avisou que dali 10min estaria passando para nos pegar, levar ao hotel, onde poderíamos aguardar na recepção, enquanto um iria com ele até o carro e sabe Deus o que seria. Fomos nós no carro do chileno para o hotel chique, e a gente naquele estado horroroso. Ainda tivemos que esperar um tempo, até vir outro mecânico (nossa, tudo é enrolado!) Decidimos que o Pablo ficaria no hotel aguardando com nossas tralhas e eu e o Nano iríamos com o mecânico. Eu, Nano, dois chilenos numa van velha caindo os pedaços, passeando pelo Torres, procurando a Cata. O mecânico nos conta cheio de orgulho que era mecânico, mas não tinha um filtro de combustível, que maravilha! “O que o Sr. não entende é que sabemos qual é o problema e precisamos da peça”...e ele com aquela cara de “relaxa, a gente vê o que faz”...já estava vendo que jogaríamos mais dinheiro fora, mas fazer o que, foi o melhor que conseguimos. No caminho, pescoçávamos o tempo todo procurando a Cata e nada dela, subidas, descidas, curvas, montanhas e nada dela aparecer, só então pudemos calcular e ter noção do quaaaanto o Pablo tinha andado no dia anterior, e rápido! (pelo menos uns 13km) Puxa, ele tinha sido nosso herói. Quando avistamos “ela” do alto de um morro, respiramos aliviados e contamos o que pensávamos. O Nano, mais louco, pensava que tinham roubado o carro (mesmo quebrado!) e que o Parque ia ter que nos indenizar (só se foi um bando de guanacos bandidos), ou que “ela” tivesse perdido o freio, descido ribanceira abaixo e estivesse no fundo de um lago e que, durante a noite ficava esperando um barulho de explosão, que veria muita fumaça atrás das Torres e no dia seguinte descobriríamos que “ela” explodiu...o Pablo também pensou isso, eu também pensei em esvaziar o tanque para evitar uma explosão (é por isso que estamos viajando juntos, 3 patetas). O mecânico soltou o filtro em 5 minutos, o que o Nano tentou durante horas e não conseguiu fazer por não ter as ferramentas certas e vimos que a rachadura ia de ponta a ponta, o negócio ainda era de plástico! Dá pra acreditar na c...gada dessa Fiat?! O chileno “jirainha” tinha levado umas mangueiras, num instante fez uma gambiarra, ligou uma mangueira na outra, desprezou o filtro, a Cata ligou fácil e não vazou uma gota de gasolina...afee, estávamos salvos, mais uns 200km e banho quente, talvez ainda desse tempo de não perder o dedinho do pé, que agora doía muito. Na volta ao hotel, seguindo a van dos chilenos, começamos a ter uma leve mudança de pensamentos....”agora a gente começa a voltar, Ushuaia não dá mais mesmo, mas ano que vem podemos ir para o Deserto do Atacama de carro, pensando bem não é tão ruim viajar de carro né? É só a gente comprar um que não tenha filtro de combustível embaixo” o pior é que nenhum dos dois discorda, isso é um vício, a gente apanha, mas gosta.
O chileno disse que tinha um filtro do carro particular dele e se servisse colocava no nosso carro, caso contrário, iríamos de gambiarra até Natales e lá tentaríamos comprar outro. Enquanto foram na oficina/garagem dele, fui até o hotel tranqüilizar o Pablo...ele estava na porta, ao relento, abraçado à nossas tralhas com cara de cachorro sem dono, ele não falou nada e eu achei que estava ali por que estava preocupado e queria tomar um ar, sei lá. O filtro não servia, ainda tinha muita estrada de rípio, teríamos que ir bem devagar. Voltamos ao hotel para pagar e no carro o Pablo contou que tinha sido “convidado a se retirar” por não ser hóspede....ai, ai, ai, de novo eu sentia as bolhinhas de sangue dentro das veias, comecei a ferver...Como assim?! Foram os próprios mecânicos (funcionários do hotel) que pediram para aguardarmos na recepção até o conserto, até porque teríamos que pagar lá (tá certo que nossa aparência não era das melhores, mas isso é preconceito). Aguardei “calmamente” ser atendida pela recepcionista extremamente simpática que conversava muito empolgada com um gringo mala! Eles descobriram muitas coisas em comum, ele era Croata e toda a família dela era de lá...ainda bem que eu estava super descansada e paciente aguardando aquela palhaçada toda. Ainda bem também que o Nano estava na mesma situação e foi tão delicado quanto eu gostaria que ele fosse: “Escuta aqui, eu to querendo pagar e vocês não estão querendo receber, posso ir embora assim ou alguém prefere me atender?”...Tinha mais duas baratas tontas atrás do balcão que se mobilizaram rapidinho e ficaram apanhando da máquina de cartão de crédito...como esse povo é enrolado! Então, com gosto eu pude dizer: “Mocinha!”...áh, como eu adoro isso! Pela primeira vez em muitos dias eu fiz questão de falar absolutamente em português, expliquei o que tinha acontecido e sobre a atitude nada profissional dela pedindo para o Pablo sair do hotel (ainda mais quando vi duas crianças remelentas fazendo a maior zona nos sofás da recepção)...ela fez que não entendeu e o Nano começou a explicar em Espanhol, eu pedi pra ele parar e disse que, não era mais eu que ia ter que me esforçar para me fazer entender e sim ela, já que, trabalhava num hotel de luxo deveria falar mais do que o Espanhol...engraçado, de repente ela entendeu o que eu disse! Ficou muito sem graça, pediu desculpas, abaixou a cabeça, minhas bolhinhas pararam de fervilhar e eu saí feliz.
Na volta, cada um escorado numa porta do carro, os olhos fechando, as cabeças coçando, percebemos que eu e o Nano estávamos com febre, mas eu não tinha nada além de febre. Chegamos em Natales umas 15:00hs, nos demos o direito de um almoço de rei no hotel (o melhor que eles conseguissem fazer), deixamos o Pablo para descansar e fazer contato com o Brasil e fomos em busca de um filtro de combustível, rodamos a cidade e a única loja estava fechada ainda, fomos à casa do tiozinho do câmbio e ele “ainda” não tinha a cotação (povo enrolado? Imagina!), teríamos que voltar mais tarde. Meu Deus, esse dia não vai acabar? Conseguimos finalmente comprar o filtro e por incrível que pareça, lá no fim do mundo achamos um de metal...E pra achar um mecânico que quisesse trocar? Rodamos a cidade toda umas 3 vezes, as poucas oficinas que tinham, sempre na garagem das casas, eles nunca queriam trocar (povo preguiçoso? Imagina!) O Nano já estava quase desistindo e entrando embaixo do carro ele mesmo pra trocar, mesmo sem ferramentas e macaco certo, quando achamos uma boa alma que aceitou...levou uns 20 minutos. Decidimos que daríamos um belo banho na Catarina que, estava de barro e terra até o último parafuso, para começarmos uma nova viagem de volta, carro limpo, banho tomado, roupas limpas (+ ou - ) e Ushuaia um dia talvez, de avião. Achar um lava rápido nessa cidade...piada né! Depois de muito procurarmos, encontramos dois caras na garagem de uma casa (lá, tudo é assim), eles aceitaram o desafio, mas pediram 2 horas. Como eles também trocavam o óleo, deixamos a Cata no seu dia de princesa e fomos a pé na mesma loja do filtro, comprar o óleo, andamos muito e muito e começou a chover! O cansaço já tinha passado do ponto de estafa e virado “que se dane”, como uma louca, molhada, fedida, cabelo de Bob Marley, ainda entrava nas lojinhas procurando regalos. Voltamos a pé no tiozinho do câmbio, ele tinha saído, teríamos que voltar mais tarde...rs...será que tomo banho hoje ou fico 3 dias sem? Nós andávamos na rua e eu peguntava: “Por favor Nano, diga-me, tem fim esse dia?”.....Chegamos na garagem dos caras e lá estava ela, linda, reluzente, cheirosa como uma princesa, até descobrimos novamente a cor dela que nem se via mais, os caras deram o maior trato! Foram super atenciosos, só dava dó de entrar no carro cheios de barro como nós estávamos, ainda esperamos trocarem o óleo e voltamos na casa do tiozinho, agora sim, com a cotação que, era péssima por sinal. Trocamos poucos pesos, apenas para sair do Chile e FINALMENTE voltamos ao hotel. Um banho de uma hora onde os processos de lavagem foram repetidos de duas a três vezes, mesmo sabendo que já ia comer, escovei os dentes duas vezes e me sentia renascida do inferno. Esperei o Nano tomar banho, nos enfiamos embaixo das cobertas, comi uma sopa quentinha, enfiava a cabeça no travesseiro macio, puxava a coberta até a orelha e gostava de ficar lembrando da noite anterior.