21/09/08 (Domingo) – Puerto Madryn / Península Valdez / Puerto Madryn – 410km



























































































































































































































































































































































































O relógio despertou às sete, mas ninguém se mexeu. Eu estava ansiosa, mas exausta e diante do sono pesado do Nano e do Pablo, me entreguei de novo. Acabamos acordando meio tarde e o Nano teve pressa pra ir tomar café, afinal, segundo ele, já “estava combinado desde ontem que iríamos para a Península”, então achei melhor correr antes que ele mudasse de idéia. Passamos antes no Centro de Informações Turísticas para descobrir como se chegava lá e pegar alguns mapas...nós só não imaginávamos que a mocinha tinha esquecido de nos dar a principal informação. Só até a Península eram 100km, mais 250km (de pedra) para percorrer a Península e mais 100km na volta para Puerto Madryn, mas as distâncias tornavam-se cada vez menores para nós, muito, agora, só quando passava de 3 algarismos. Bom, quando já tínhamos percorrido mais da metade do caminho, uns 60km, uma placa gigante informando os valores para entrar na Península....putz, f....eu! Nós não tínhamos dinheiro, lembra? Era domingo, nada de casa de câmbio, lembra?...Tá bom, eu concordo que foi uma falha não termos nos informado antes e nem ter imaginado que se pagava para entrar, sei lá, acho que eu pensava que era só um pedaço de terra, sei lá o que eu pensava, acho que não pensava. Mas na verdade, ainda bem que não descobri isso antes de ir, porque eu não teria ido, não teria feito o que fiz e teria ficado frustrada. Enfim, quando vimos a placa, o Nano soltou o mesmo palavrão que eu, diminuiu a velocidade, vimos um carro cheio de gente parando embaixo da placa, com certeza contando os pesos na carteira também, assim como nós, porque a brincadeira é carinha, viu! Eu tentei contar duas vezes, pra ver se aumentava, rendia, sabe, mas não teve jeito, nós só tínhamos o equivalente à entrada de uma pessoa e meia. Tínhamos duas opções, ou voltávamos para Puerto Madryn, nos enfiávamos no hotel com cara de bunda e todo mundo ia ter agüentar meu bico, ou deixávamos uma pessoa e meia na estrada...hmmmm...nenhuma das duas opções era viável, ta certo que a idéia que tive foi completamente contra a educação que meus queridos pais me deram, mas fazer o que né, eu tinha que tentar ver os gordinhos (pingüins, elefantes e leões marinhos todos são gordinhos, me identifico com eles), foi quando resolvi “pedir”, sim! Pedir dinheiro! Chorar! Chantagem emocional! Ta aí uma coisa que eu sabia que sabia fazer bem....beicinho! Não é possível que não conseguiria convencer um guarda-parque...Falei para o Nano tocar que eu ia colocar a gente dentro da Península, não custava arriscar, de duas, uma, ou a gente passaria raiva, ou nos divertiríamos, e eu estava bem disposta a me divertir! Ele foi bem legal e até se propôs a me ajudar (era o mínimo né!). Durante os últimos km pensei em tudo que pudesse falar, já me imaginava fora do carro contando uma história exagerada de um assalto, os guarda-parques interessados e sensibilizados, ou dizendo que era repórter no Brasil e queria fazer uma matéria, mas nada me parecia convincente, então resolvi falar a verdade, exagerar um pouco e fazer beicinho, claro! A portaria é como um pedágio, isso não me dava muita liberdade de ação. Paramos na fila de carros e o Nano me disse: “Hora de agir Isabela, já pensou no que vai dizer?” Na hora eu percebi o quanto tinha sido burra! Era só eu e o Pablo termos nos enfiado no porta-malas e teríamos entrado sem nenhum problema, que anta! O Nano disse, “tarde demais, agora é no xaveco”...chegou nossa vez e foi ele quem começou o teatro, a mocinha disse o preço, ele pegou a carteira, fingiu que estava contando o dinheiro...putz, que vontade de rir e que vergonha ao mesmo tempo...e a pergunta ridícula, mas tinha que ser feita, nunca se sabe, afinal, as propagandas do Mastercard prometem que ele é aceito em lugares inóspitos...rs...”Aceitam tarjetas?” Claro que não! Daí o Nano tentou desfiar uma conversa pra cima da menina, que nós não sabíamos, ficamos sem dinheiro por causa do fim de semana, blá, blá, blá, ela foi super simpática, entendia tudo perfeitamente, claro, mas não podia fazer nada, claro, sim, claro....Daí a gente revezou e eu comecei: “Mira, chica!”...Quase pedindo pelo amor de Deus (cara de pau) não custava nada ela nos cobrar o preço para Argentinos, que era bem menor, e o de provincianos então, simbólico! Ou aceitavam todos os nossos pesos, equivalente a entrada de uma pessoa e meia para estrangeiros...rs...Ela começou a ficar desconcertada com a situação, tinha uma fila de carros se formando atrás, ela não queria ser indelicada, então nos deu a possibilidade de passar a portaria e parar na casa dos guarda-faunas para conversar com seu superior, só ele poderia liberar...beleza! Eu só não imaginava que o cara era o cão! O chefe, um careca, irredutível! Não teve chantagem emocional, beicinho, manha, nada que dobrasse o cara no meio! Não adiantou explicarmos que não poderíamos aguardar até segunda porque tínhamos prazos no Brasil, não adiantou oferecer os pesos que tínhamos mais reais, que valem bem mais que o dinheiro deles, não adiantou eu inventar que tinha vindo do Brasil só para ver os pingüins que ele guardava....o careca foi mau, muito mau com as nossas pessoas, eu fiquei p..., com muita raiva, virei as costas, saí chutando as pedras e xingando ele no caminho até o carro...O Nano e o Pablo ainda conversaram mais um pouco com ele, fazendo uma social, mas pra isso eu sou mal educada mesmo, bati a porta do carro e fiquei de cara feia (mais). Dane-se o careca, ele não serve pra mais nada mesmo, pra que eu vou continuar olhando pra essa cara de cocô? O corno ainda deu uma de “não confio em vocês” e ficou anotando a placa do carro (sempre com cara de cocô tá), deu um toque para o segurança, para terem certeza que sairíamos do parque e não tentaríamos seguir...isso, porque o Nano tinha sido super simpático com o cara, agradecido e tudo! Demos meia volta, eles foram nos acompanhando com os olhos e quando paramos na cancela para sair, eles não abriam! Áh não! Qual é hein?! Além de não ter um pingo de boa vontade, os caras ainda não iam deixar a gente sair?! Só faltava essa agora...ainda bem que eu tinha o telefone de todas as Embaixadas, nunca se sabe onde se pode arrumar uma confusãozinha né....Poxa, lembrei de uma história agora que um amigo me contou numa festa esse fds, nada a ver com essa aqui, mas é legal...Um cara viajou assim, pelo mundo, de mochila, mas muitas vezes mais louco que a gente, entrou em várias frias, ficou ilegal em vários países, num deles foi preso, o pai teve que mandar dinheiro do Brasil pra ele poder voltar, os caras foram legais, soltavam ele com essa garantia, foi alguma coisa assim, ele deu um baile em todo mundo e usou a grana pra viajar pela China...rs...no fim da viagem, quando já estava no Brasil, pegou carona com um caminhoneiro, acho que em Goiás, o caminhoneiro tinha vários papagaios...não preciso nem dizer né, o mochileiro foi preso, depois de um ano fazendo besteira em tudo quanto é país, aqui, no Brasil, perto de casa, por tráfico de animais silvestres...Bom, voltando à nossa história, veio um cara na janela do carro, acompanhado de uma menina conversar com a gente, estavam com uniformes de guarda-faunas, o mesmo do careca, e queriam confirmar o que tinha acontecido, mas que coisa, isso não tinha fim? Áhhhh tinha, e ainda por cima um final feliz! O casal de guarda-faunas simplesmente queria trocar todos os pesos que tinham nas suas carteiras pelos nossos reais! Eles ficaram sabendo da nossa história, o negócio já tinham repercutido, e não queriam que a gente fosse embora sem conhecer o parque....eita, mas o careca estava tentando morder o cotovelo assistindo tudo lá do outro lado! Eles nem quiseram consultar a internet pra ver a cotação do dia, simplesmente acreditaram na minha palavra, uma pena pra eles, confesso, não por maldade minha, mas eu não sabia quanto estava a cotação em Puerto Madryn, deixei isso claro, eu sabia a cotação da última vez que tinha cambiado, mas na segunda, quando fui a uma casa de câmbio em Madryn, vi que eles perderiam uns trocados, uma pena, eles foram muuuuito legais! Mais uma vez demos a volta na portaria, dessa vez do lado contrário, a menina da casinha tipo pedágio tomou um susto e o Nano balançou a grana no ar pra ela ver e disse: “Conseguimos mocinha!” Ela se matou de rir e finalmente nos deu os ingressos.
A beleza da Península não é descritível por palavras, nada parecido com nenhuma paisagem que já tenhamos visto no Brasil. Primeiro conhecemos Puerto Pyramides, uma cidadezinha dentro da Península, com toda infra de restaurantes e pousadas, mas bem acolhedora. O mar de um azul e verde que doem os olhos, com formações de rocha e areia incríveis que invadem o mar. Almoçamos por lá, num barzinho bem aconchegante a beira-mar, onde assistíamos numa tv de plasma o passeio de barco que sai dali para avistar as baleias francas austrais...e depois de assistirmos umas 2 vezes o mesmo dvd, decidimos que não faríamos o passeio, era muito monótono. Seguiríamos navegando com a Cata mesmo, pelas estradas de rípio, vendo o que desse pra ver...E não foi pouco hein! Que aventura! Uma baita emoção ver os leões e elefantes marinhos tão de perto! O Pablo sofria, dizia que não queria mais ficar olhando, porque a anatomia deles é injusta...rs...e os caras sofrem mesmo, gordos, muito gordos, com minúsculas nadadeiras, mal conseguem se arrastar pela areia, conversam o tempo todo, latem, brigam! São muito engraçados...Um deles, com seu filhote, não parava de conversar e jogar pedras nas costas, para se coçar, é demais! Os pingüins então, nem se fala...vê-los assim, em seu habitat natural, não tem preço! Não resisti e me aproximei muuuito deles...um deles veio todo gordinho e safado se esticando na minha direção, querendo abocanhar uma sardinha que não existia, quase perdi a ponta do dedo...rs. Conseguimos percorrer toda a Península, só não passamos pelas salinas, pois não dava mais tempo, no percurso de volta o Sol já estava no horizonte, não teríamos luz para vê-las. Passando de novo pela portaria, eu me preparei para fazer uma bela banana para o careca, mas já era tarde e ele não estava mais lá. Ainda passamos no mercado para comprar umas porcarias e reaver um chocolate que havíamos deixado lá no dia anterior...mandei pra dentro uma bela sopa no quarto do hotel mesmo.