04/09 (Jueves=Quinta) – Córdoba / Mendoza - + ou – 800km








Acordamos às sete, tentamos comer um pão com qualquer coisa no quarto mesmo e partir o mais rápido possível, queríamos “vazar” de Córdoba, pegar estrada, vento na cara, xô nhaca. Pegamos estrada na maior tensão, tentava relaxar, pensar positivo, mas a tensão estava no ar. Estávamos com muito sono, parecia que todo o cansaço dos dois últimos dias tinha batido agora. Conforme as horas foram passando e a Catarina foi se saindo super bem, fomos relaxando um pouco. Viemos bem devagar, não mais que 110km/h, sem pressa e que fosse o que Deus quisesse. Dirigi um pouco mais de 100km e o Nano quis pegar todo o resto. Optamos pelo caminho mais longo, porém mais seguro, numa autopista com socorro e movimento, caso necessitássemos. A viagem correu maravilhosamente bem, pegamos trechos bem ruins, mas sempre por motivo de obras, nos perdemos só uma vez e por volta das 17:00hs compramos uma daquelas tripas de pão e almoçamos no carro mesmo, não queríamos dirigir a noite e a partir de agora começamos a economizar ao máximo. Quando estávamos já próximos de Mendoza, super cansados, pensando em arrumar um hotel meia boca, tomar um banho e dormir...olhava algo bem distante, mas totalmente diferente de tudo que já tinha visto, apertava os olhos e pensava, “não é possível, sou cegueta, com certeza são só nuvens”...mas aquelas nuvens, bem ao fundo, não desfaziam o formato de picos e dava a impressão de estarem salpicadas de açúcar...como já era lusco-fusco, a imagem se confundia mais ainda, então resolvi anunciar: Meninos, calmamente olhem para o lado esquerdo e me digam se estou enlouquecendo já com tanta coisa, mas aquilo são os Andes! Eles levaram um baita susto, o Pablo concordou comigo e ficou de boca aberta, o Nano insistia que eram nuvens, afinal, estava muito longe. Saquei o binóculo da mochila e quando ajustei o foco, senti meu coração dar uma leve parada e voltar a bater bem rápido, eu sei que é coisa de pobre, mas que emoção! O Nano jogou o carro no acostamento, eles desceram correndo e quando ele viu pelo binóculo, soltou um belo palavrão, eu até filmei. Passou um filme pela cabeça, de tudo o que havíamos passado, deu um nó na garganta, mas Deus estava agindo para que nosso sonho se realizasse. Chegamos a Mendoza flutuando e tudo desde então tem funcionado perfeitamente bem. Achamos um hotel bom e barato rapidinho, tem até cozinha, fizemos nosso jantarzinho em família, falamos com nossos pais e precisava urgente tentar reativar o blog. Saí às 23:00hs em busca de um cyber, mas já estava tudo fechando, enquanto esperava o Nano conversar com a mãe dele consegui captar um sinal de internet, voltei para o quarto correndo, encarei a exaustão, criei o blog novamente e agora, aos poucos vou recuperando o tempo perdido. Agora é 01:00 passada, os meninos estão apagados e eu vou me entregar, queremos levantar as 6 ou 7 no mais tardar.
Áh....sentimos que tinha alguma coisa diferente no ar...mas a ansiedade era tanta que apenas sentíamos um friozinho, mas está 4 graus.
Não sabemos de absolutamente nada daqui pra frente, apenas de que temos de continuar tentando, até onde vamos conseguir chegar, como vamos conseguir, tudo é incerto, mas aprendemos a confiar mais ainda em Deus, nos unimos muito e estamos totalmente em paz e harmonia. Daqui a pouco é novo dia, uma nova experiência e um novo aprendizado.

P.S: Perdoem os comentários que foram perdidos, esses não conseguirei resgatar, mas esperamos ansiosamente novas mensagens. Vocês nem imaginam o quanto é importante pra nós sabermos quem acompanha e torce. As palavras de vocês nos empurram sempre pra frente, seja como for.

03/09/08 (Miercules=Quarta) – Córdoba / Córdoba / Cór...



Ficamos até um pouco mais tarde na cama, pois não tínhamos dormido bem e decidimos voltar devagar, com medo do que pudesse acontecer ao carro. Meu pai ligou às 8:00 pedindo para aguardarmos porque ele estava indo pessoalmente conversar com nosso mecânico e retornaria. Eu voltei a olhar os mapas pra ver se ainda tínhamos tempo, se decidíssemos continuar...Meu pai ligou de novo e foi outro tapa na cara. Nosso mecânico nos aconselhou a voltarmos, pois tudo indicava que era mesmo um problema elétrico, complicado de se concertar no Brasil, pior onde estávamos. Na verdade, nunca existe uma certeza, a gente pode trocar de tudo e o defeito voltar a aparecer (foi o que aconteceu). Mesmo com muita tristeza resolvemos que o mais responsável seria retornar ao Brasil. Arrumamos nossas coisas, o Nano comeu uma pequena média-lunas, eu comi nada e fomos a casa de câmbio vender os pesos chilenos. Eu estava com a cara inchada, de tanto chorar. Na venda dos pesos perdemos um bom dinheiro, o Nano tremia, eu já estava anestesiada de tanta coisa que acontecia, uma atrás da outra. Na volta ao hotel passei num cyber, onde mandei um e-mail para a família comunicando e retorno e em seguida excluí o blog. Arrancamos os adesivos do blog, da bandeira de SP e do Brasil, entramos no carro e partimos com destino ao Brasil, porém, nos perdemos na saída da cidade, já estávamos no Portal de saída quando percebemos que estávamos a caminho de Buenos Aires, entramos no retorno e enquanto aguardávamos o farol abrir, o Nano viu ao nosso lado um Palio 16V (até então não visto e nem citado pela concessionária da Fiat)...ele foi andando ao lado, meio perturbado e acho que não ficaria em paz se não fizesse isso: Começou a gritar para a mulher baixar o vidro e perguntar se o motor era 1.0...Foi uma bagunça, ela não entendia nada (nem sempre os Argentinos são simpáticos, eu só estava esperando ela começar a nos xingar) estava o maior trânsito, ela diminuiu a velocidade, todo mundo começou a buzinar e ela fez sinal para o Nano entrar à direita que ela ia encostar o carro. Corremos na janela dela, explicamos resumidamente e perguntamos sobre o motor, ao que ela respondeu que, não entendia absolutamente nada de carros, pois era FISIOTERAPEUTA, mas que seu marido era dono de um AUTO ELÉTRICO e que só ele poderia nos dizer, perguntou se queríamos segui-lá. Lá fomos nós, no automatismo, sem compreender porquê estávamos fazendo aquilo, nós precisávamos ir embora, já tínhamos decidido, já tínhamos aceitado! A mulher chamou o marido, explicamos pra ele o que estava acontecendo e ele nos disse que o motor era exatamente o mesmo, inclusive que o carro era do Brasil, a mulher estava super apressada, pois estava levando o pai para casa e tinha paciente para atender, arrancou com o carro e o Nano não conseguiu ver o motor. Conversamos muito com o Sr. que nos explicou que não tinha muito segredo se necessitássemos de peças, inclusive, a 4 quadras pra frente ficava a fábrica da Fiat. Sua esposa retornou muito rápido e vimos que o motor era 1.3, diferente do nosso, mas quaaaaaase igual. Ele pensou muito e disse que o que podia fazer para nos ajudar era nos encaminhar para um conhecido dele, de muita confiança, especialistas em injeção eletrônica e que só eles poderiam fazer um diagnóstico preciso e em cima do diagnóstico descobrir se necessitava trocar alguma peça e aí sim, poder nos dizer se essa peça existe aqui ou não. Mas, como SEMPRE, tudo nos ACONTECIA (acontecia, passado, se Deus quiser) por volta do meio dia, então teríamos que aguardar até às 15:00hs + ou -. Enquanto o Nano entrou com ele para ligar para os caras, eu fiquei chutando umas pedras na rua e trocando uma idéia com Deus, pensava: pôxa, assim o Sr. dá um nó na minha cabeça né?...Nós estávamos indo embora, eu estava tentando me conformar, daí essa coisa toda foi acontecer e agora?...A esposa dele super atrasada para atender o paciente, ainda quis nos levar até a oficina que não ficava nada perto. Lá fomos nós, numa confusão de sentimentos, sem saber direito o que estávamos fazendo, se era um erro ou um acerto, se era teimosia ou persistência, mas tínhamos sido tão acolhidos por esse casal, tão bem tratados, eles passavam uma energia tão boa, nos chamavam o tempo todo de “chicos”, foram carinhosos, nos beijaram, disseram que gostariam que alguém fizesse o mesmo por eles se um dia estivessem em apuros no Brasil, não dava pra recusar. Quando chegamos à oficina tivemos a agradável surpresa de sermos mais uma vez muito bem recebidos. Começaram logo a examinar o carro, mais uma vez explicamos tudo, desde o começo e com a maior naturalidade possível o rapaz disse que caso necessitasse substituir o corpo da borboleta, a centralina da injeção ou mesmo o chicote, que eles tinham as peças sim! E as que não tinham, ele tinham como conseguir. Mesmo o carro sendo 1.0? Sim. Mesmo não tendo 1.0 na Argentina? Sim. Tudo bem, poderia ser um baita de um golpe, mas pelas circunstâncias não pareceu ser. Scanearam tudo, várias vezes, fizeram vários testes, mas naquele momento nada aparecia pelo scanner, então resolveram fazer outros testes e outros, enfim, localizaram uma falha de “massa”, como um desequilíbrio, um comprometimento do funcionamento das correntes elétricas, algo assim...quase enlouquecemos o “Jorge” com tantas perguntas e tanta pressão para que ele nos desse certeza e ele se manteve firme. Não quis trocar nenhuma peça da injeção que são caríssimas, não enfiar a faca...enfim, disse que era um trabalho um tanto quanto demorado, mas que ficaria pronto até às 19:00hs. Mais uma vez nos sentíamos perdidos, o que fazer? Nem tínhamos onde ficar...Decidimos tentar, mesmo que fosse para voltar pra casa, mas com mais segurança. Ele fez questão de nos levar em seu carro até o centro para procurarmos um hotel mais barato do que o que havíamos ficado, pois já tínhamos gastado até o fundo das calças. Andamos pra caramba, paramos pra comer alguma coisa que quase não desceu de novo e ficamos num fuleiro qualquer porque não agüentávamos mais andar. Passamos o resto da tarde deitados, eu com enxaqueca, o Nano nervoso, uma angústia...às 18:00hs não agüentávamos mais esperar, decidimos tomar um táxi até a oficina e aguardar por lá mesmo. Fomos novamente muito bem recebidos, inclusive pelas cadelas que nos distraiam bastante. O carro estava em teste, já tinham feito os reparos e não agüentávamos mais de tensão. Rodaram durante meia hora e nada, tudo redondo, tudo perfeito...e agora? Piramos de novo. O Jorge nos deu certeza absoluta que o desequilíbrio de massa afetava o funcionamento da centralina, da borboleta e era um problema que ia e voltava. Da parte deles, estava resolvido. Não adiantava mais pressionar o Jorge, no fundo, no fundo, eu queria que ele decidisse pela gente, eu queria que qualquer pessoa decidisse pela gente...e o medo de tomar a decisão errada? Tanto pra ir, quanto pra voltar...Enfim, retornamos ao hotel com uma boa energia, uma esperança de que tudo tivesse dado uma revirolta, mas queríamos consultar meu pai. Nada de conseguir falar com ele e a idéia de prosseguir já tomando conta da gente de novo. Consegui contato às 21 e pouco, despejei tudo o que aconteceu, sem vírgulas, na certeza que ele ia tentar me convencer a voltar...mas como ele sempre me surpreende, nos deu total apoio para continuar, desde que fossemos responsáveis...P...que la parila!!! Era tudo o que eu precisava ouvir. Decidimos continuar, e que Deus nos abençoasse. O Nano comeu um pão com salame no quarto mesmo, eu e o Pablo não conseguimos comer nada. Comecei a atualizar o diário de bordo de novo, revivendo todas as emoções dos últimos acontecimentos, os meninos desmaiaram de cansaço e nem ouviram quando minha mãe ligou...para nos dar a benção! Para nos apoiar na decisão de continuar em frente....P...que la parila de novo, até tu mãe?! Estava mais do que resolvido. Se vai dar certo, se vai dar errado, até onde vamos conseguir chegar...só Deus sabe, e sei que ele só quer o melhor pra nós, então entrego tudo nas mãos dele e vamos dar continuidade ao sonho.

02/09/08 (Martes=Terça) – Córdoba / Córdoba / Cór...








Nem sei por onde começar o dia de hoje, até porque hoje não é hoje, é amanhã e pelo horário talvez depois de amanhã. O post será muito, muito longo, apenas para os que tiverem paciência. Isso deixa de ser um simples diário de bordo e se torna um verdadeiro testemunho, pois foram os dois dias mais difícies não só da viagem, mas de muito tempo da minha vida. Lá vai:
Como é bom dormir em hotel bom! Quarto limpo, roupa de cama limpa, mas ainda assim, o meio chique daqui, é o fuleiro no Brasil. Café da manhã, o de sempre, medialunas + café com leite. Acordamos bem cedo pois, fomos informados que a casa de câmbio abria “cedinho”, a surpresa é que o cedinho deles é “por volta” das 08:30hs. Perdemos mais um tempão zanzando pela cidade que é bonita por ser bem antiga, mas tínhamos ansiedade em partir. Cansados de andar, paramos numa praça, morrendo de frio e esperando o Banco de La Nacion abrir, perdemos mais tempo na fila e descobrimos que não se aceitava reales. Fomos ao Itaú, onde se aceitava reales, porém somente com passaporte. Achamos uma casa de câmbio que estava com uma cotação melhor que da aduana e compramos pesos chilenos e argentinos. Nem acreditávamos, finalmente seguiríamos viagem. Voltamos correndo para o hotel, fizemos check-out e aguardamos o Nano subir a Cochera com o carro. Quando eu e o Pablo entramos no carro, o Nano deu a partida, mas a partida não aconteceu (lembrar disso é um pesadelo). Ele conseguiu fazer pegar acelerando, mas a luz da injeção acendeu e o carro perdeu força...Eu e ele conhecíamos muito bem esse problema (gastamos muito em SP para resolver isso e viajarmos sossegados)...mas lá estava ele de volta, que desespero. Ele tentou de tudo, o carro morria, pipocava, ligava de novo, parava de acelerar morria de novo, que desespero!...Achei melhor nem tentar sair com o carro desse jeito no trânsito caótico da Av. que é como se fosse a nossa Paulista. Descemos o carro pela cochera, super apertada, tinha carro atrás, tiveram que voltar, um transtorno. Pedimos ajuda para a recepcionista e pretendíamos pegar um táxi até onde tivesse alguma oficina, buscar um mecânico. Ela conseguiu pelo telefone que viesse alguém por não menos que 100 pesos, não tínhamos saída. O Sr. falou, falou e não falou nada, muito menos fez...depois chegamos à conclusão que ele não tinha nenhuma experiência em problemas eletrônicos ou coisas do tipo, como já disse anteriormente, a grande maioria dos carros daqui são muito velhos. Ele saiu com o Nano para “provar” o carro. Eu e o Pablo sentamos na calçada na frente do hotel com cara de cachorros abandonados esperando, esperando, eternamente...Quando eles chegaram e entraram na cochera, logo vi no paralama o porquê da demora, uma batida. Fala sério, só pode ser mentira...O Nano desceu do carro e perguntei como tinha acontecido a batida? Ao que ele me responde: Que batida? Não bati o carro!...Pois é, bateram no carro na garagem do hotel sem que a gente visse, enquanto procurávamos mecânico. Foi só uma ralada, uma bela ralada, mas a situação estava tão angustiante que o Nano nem ligou, o que teria deixado ele enfurecido em qualquer outro dia. O mecânico continuou não resolvendo nada, mesmo tendo dado o problema de novo enquanto eles davam uma volta. Disse que precisava de scanner, que deveríamos procurar a Fiat, coisa e tal, mas que poderíamos seguir viagem...lá se foi 100 pesos ao lixo. Decidimos seguir daquele jeito mesmo e que Deus nos ajudasse, acreditávamos que pudesse ser da gasolina diferente...saindo da cidade, pifa de novo, o maior trânsito e só conseguíamos andar em primeira! Todo mundo buzinando, um nervoso absurdo...Pedi ao Nano que procurássemos uma Concessionária Fiat. Por incrível que pareça, estávamos na avenida certa, chegamos não sei como, nos balançando dentro do carro, como se quiséssemos assim empurrá-lo. E como TUDO tem acontecido com a gente ao 12:00hs (horário em que eles fecham tudo), dessa vez não poderia ser diferente. Conseguimos explicar ao funcionário o que estava acontecendo, ele anotou todos os dados e disse que apenas para scanear e procurar o possível defeito...140 pesos, fora o concerto, além disso, eles precisavam almoçar e só retornariam pelas 14:00 ou 14:30hs...que jeito?! Deixamos o carro com uma baita dor no coração e com a sensação de que era o começo do fim, mas sempre com uma esperança, sempre! A cada vez que tiravam nosso chão, a tristeza aumentava, mas sempre pensávamos numa outra saída. Saímos sem destino, num bairro bem afastado da cidade onde não tinha uma alma viva. Morrendo de fome, mas sem vontade de comer, andando sob um Sol escaldante...achamos um kiosco, como eles chamam aqui, o que parece uma “vendinha” para nós...há infinitas por aqui. Compramos um sandwich, nosso lanche, mas aqui é um pão de forma compridão e bem fininho, sempre com queijo e presunto, nada mais e pronto de fábrica. Desolados, nem tínhamos onde ficar, sentamos numa escada, na frente de uma casa, comemos nossa tripa de pão e pela primeira vez eu comecei a sentir muito medo de estar longe de casa e da nossa família, nós estávamos literalmente sem casa, o que a “Catarina” tinha se transformado para nós. O Pablo colocou o boné na cara e tentou cochilar num canto, eu e o Nano começamos a filosofar sobre as coisas da vida, sobre o que escolhemos para nós. Nos contraíamos de frio, porque no Sol é insuportável, mas na sombra é muito frio, venta muito. A hora não passava, os minutos eram angustiantes. Achamos um pé de mexerica numa ruazinha...áhhh uma lembrança do Brasil, eu faria tudo para comer uma mexerica...inclusive subir na árvore...uma cena ridícula, o Nano me escorando pelo ombro, me arranhei toda, mas consegui várias mexericas...o cheiro estava maravilhoso, então mordi com vontade, com muita vontade! O ácido entrou rasgando um corte que já tinha na minha boca por causa do vento, como doeu aquilo! Corri tomar coca quente, engasguei, saiu pelo nariz...aquilo tudo virou uma palhaçada, demos risada e por um momento esquecemos da situação tensa. Eu queria ficar ali na rua pra sempre, com medo do que viria pela frente....hora de retornar, saber o diagnóstico, caminhamos de novo pelo Sol, cansados e desanimados. Chega lá e uma espera interminável, eu olhava a “Catarina” no pátio pelo vidro da recepção, o Nano e o Pablo sentados de cabeça baixa...nenhum médico vinha nos dizer o que estava acontecendo com ela, sim, era exatamente essa a sensação, como se eu estivesse olhando uma pessoa querida pelo vidro de uma enfermaria. Se ela estivesse muito doente, seria o fim do nosso sonho. Não agüentei mais a angústia, peguei o Nano e o Pablo e entramos no pátio. Os mecânicos mexendo no scaner como se fosse um ventilador mecânico de UTI...áh Meu Deus, aquilo precisava dar certo. Mas não deu, ou “quase” não deu...o scaner acusou alguns erros (que eu e o Nano conhecíamos de cor, de SP) e o prognóstico foi péssimo, esse foi o maior tapa na cara desde que tudo começou...eles simplesmente não podiam fazer nada, porque não existe Palio 1.0 na Argentina. Não podiam trocar nenhuma peça, nem 1 fio sequer, porque diziam que o motor é totalmente diferente. Aqui eles só tem 1.4 ou 1.8 e 8V...estávamos dispostos a acabar com o limite do cartão de crédito se fosse necessário, mas eles simplesmente não tinham as peças, nenhum tipo. Teriam que pedir do Brasil e demoraria 20 dias para chegar. O desespero se transformou em pânico, além de acabar tudo, não sabíamos nem como voltar ao Brasil. Eles disseram que fariam uma limpeza nos conectores e era o máximo que podiam fazer. Rezamos e muito. Limpeza feita, fios mexidos, o carro volta a funcionar normalmente, fica em teste e tudo bem, mas era só, ele não podia nos dar nenhuma garantia, nem dizer exatamente qual era o problema.
Às margens do Rio Primera Suquia nós literalmente sentamos e choramos...era o fim de um sonho, de um ano de abdicações, de planejamentos, de empolgações, de acreditar que mesmo para pessoas simples como nós, é possível sair do seu bairro e conhecer um pouco do mundo...eu não me lembrava de alguma coisa ter doído tanto. O Nano estava inconsolável, chorava como criança, se culpava por ter escolhido o carro errado...nessas horas, passa absolutamente de tudo pela cabeça e é bem aí que começa a piração. Eu só sabia que queria falar com meu pai, eu precisava desesperadamente falar com meu pai. Resolvemos voltar ao hotel que havíamos passado a noite anterior e aguardar até hoje (03/09) pela manhã para retornar ao Brasil. Ficamos os 3 no quarto escuro, horas, sem se mexer, quase sem respirar, pensava em tudo que tinha feito, todas as pessoas que tinha envolvido nesse projeto, a sensação de fracasso me arrebentava por dentro. O Pablo saiu pra respirar, eu e o Nano chorávamos, nos acalmávamos, choramos de novo...a dúvida nos matava, tentar seguir adiante e correr o risco de tudo piorar, voltar ao Brasil e ficar com a sensação de fracasso, vazio, vergonha...parecia que a gente nunca ia se recuperar, mentira, eu sei, tudo passa, nem é tão grave assim, mas tínhamos depositado TODAS as nossas fichas, concluir isso era muito importante, por nós mesmos, e pelo que desejávamos para o Pablo....Cadê você pai?
Resolvemos então sair pra tomar um pouco de ar, tentar jantar e nos conformar com a realidade...fomos até um Mc onde só jogamos mais dinheiro fora, pelo menos o Pablo comeu melhor, tbém estava a tanto tempo sem comer....mas pra mim, parecia pedra. Eu e o Nano jogamos tudo fora. Às 23:00hs consegui falar com meu pai, ou melhor, não consegui, eu só chorava...ele tentou me acalmar de todas as formas, me encorajando a voltar numa próxima oportunidade, o mesmo com o Nano e o Pablo e minha mãe também...não queria deixá-los preocupados, mas não consigo dar um passo sem a opinião dele...coitado, que cruz. Ele ficou de tentar alguma coisa com nosso mecânico no Brasil e nos retornar pela manhã de hoje (03/09). Tomei um calmante e deitamos, aguardar o dia seguinte, a volta, que triste...(vocês pensam, não é nada demais, tem tanta coisa pior) eu sei de tudo, agradeço à Deus a todo o momento por estarmos bem, mas dói, dói muito.
Termino o post na cama de outro hotel, ainda em Córdoba, com o Nano e o Pablo dormindo, depois do segundo dia mais difícil e cansativo. Mas é outra longa história que, se der tudo certo, pretendo continuar amanhã e reativar o blog..................................

01/09/08 (Lunes=Segunda) – Paraná / Santa Fé / Córdoba – 400km







O relógio despertou às 06:30hs. mas só consegui levantar às sete, desci para descobrir como era o desayuno e me informar sobre cambio e onde teria uma casa de material elétrico para tentar comprar um adaptador para os eletrônicos, pois as tomadas daqui são diferentes. Quando os meninos desceram tivemos a agradável surpresa: 1 xícara de café com leite e 2 media lunas (croissants) de aprox. 10 cm, secos, sem recheio e duros, esse era nosso farto café. Como eu odeio café com leite, tomei um gole de coca velha que tinha viajado 1000km no sol, o Pablo deu um gole no café e desistiu, o Nano mandou para dentro, claro!...Ainda tive mais uma agradável surpresa no café, saber que, na madrugada, o Nano tirou uma barata da nossa cama. Totalmente empanturrados de vento, fomos arrumar as coisas...daí a burra descobriu que com um simples benjamim (é assim que se escreve?...rs) resolvíamos o problema da tomada. Vamos então tirar o atraso do banho e lavar a alma, o chuveiro não esquenta, que ótimo, lá vem a argentina arrumar o chuveiro. Banho tomado, alma lavada, vamos embora...precisávamos cambiar. O Nano super mal humorado de fome, queria comer antes...onde? Não tem onde nem o que comer nesse lugar! Andamos muito até vermos um Mc...o Nano me arrastava pela rua, enlouquecido de fome. E pra fazer o pedido? Que sufoco! Os meninos quase enlouqueceram a atendente, eles me empurravam para a frente, para tentar um contato melhor...rs...Enfim, a coisa foi tão confusa que a menina segurava na barriga de tanto dar risada, eu, no desespero, comecei a falar inglês, foi ridículo, veio mais um atendente tentar ajudar e ninguém parava de rir....os nomes dos lanches são diferentes e não são pedidos pelo número...também quase não há opções. Para hablar la verdad, no compriendemos mierda nenhuma de Espanhol...somos os Caballer mais “Paraguaios” que existe...Hummm...Big Mc, que milagre faz na vida das pessoas. Depois o Nano falava, cantava e dançava. Ótimo, agora podemos cambiar...como? No se aceita reales! Em Banco nenhum. Seguimos viagem até Santa Fé, maior que Paraná, nos perdemos e quando achamos o Banco, descobrimos que o expediente acabava por volta das 12:00hs!!! Casa de Cambio fechava para almoço e reabria às 16:00hs...não podíamos esperar...nos perdemos de novo, caímos numa favela (nenhum barraco de madeira), achada a saída da cidade, seguimos para Córdoba, estradas no mesmo esquema de antes, retas infinitas, um Sol impiedoso e um vento absurdo...Chegamos por volta das 18:00hs, hora em que o comércio estava fervilhando, deixamos o carro numa cochera e fomos a pé procurar hotel e casa de câmbio. Cidade enorme, arquitetura muito antiga, diferente, gostei da agitação daqui, mas sem opções de hotel, a casa de câmbio que reabria às 16:00hs, já tinha fechado de novo às 18:00hs. Depois de andar muito, voltamos ao primeiro, onde fomos muy bien atendidos, deixamos tudo por lá e viemos matar a fome comendo uma pizza de queso (é só o que tem por aqui)...a palavra “opção” não existe na Argentina, pelo menos não até agora. Termino de postar o dia de hoje aqui na pizzeria e volto correndo para tomar um banho. Córdoba fica só como passagem e pernoite.

31/08/08 (Domingo) – Foz do Iguaçu / San Ignácio / Paraná – 1060km










Acordamos 06:50hs।, despedimo-nos do café brasileiro, arruma toda bagagem de novo, lava pára-brisas, verifica água e às 08:20hs. pé na estrada. Passamos pela fronteira sem nenhum problema, a emoção era tanta que fomos embora com nossos reais mesmo...rs...era preciso abastecer, como? Volta para aduana para cambiarmos, cambio feito, abastecemos, 3,17A$=1,86R$ a gasolina super, que é a nossa aditivada. Como já prevíamos, a normal estava em falta. Percorremos alguns km bem alegrinhos e fomos parados no primeiro posto policial (adivinha quem era a sortuda que estava dirigindo?), como eu já sabia da má fama dos policiais argentinos, deu aquela dor de barriga.Um deles foi educado, porém antipático, o outro foi entrando no carro com seu cãozinho sem ao menos pedir licença. Ele manda abrir o porta-malas e começa a fuçar em tudo, manda tirar quase tudo, como eu tinha arrumado o barraco, sabia o trabalho que ia dar fazer tudo isso de novo. Quando ele começou a abrir as malas e enfiar a mão dentro, o sangue espanhol começou a ferver (se botar as mãos nas minhas calcinhas eu te mato!). Daí ele pergunta se tínhamos eletrônicos e se tínhamos declarado, eu disse que não e ele olhou feio com cara de cocô, não declarei porque na aduana me disseram que não era necessário e sei que, se tiver algum problema com a falta da declaração, será na volta ao Brasil, além disso, tenho as notas fiscais para comprovar, então expliquei isso à ele (acho que com cara de poucos amigos, quando minhas narinas abrem e fecham...rs...porque levei uma bronca do Nano). Tanto era implicância que ele nem quis ver as notas fiscais. Liberados, vou eu arrumar o barraco de novo, dei uns socos nos sacos de dormir e nos cobertores para caber de novo e ele perceber o quanto eu estava feliz (detalhe, ainda não tínhamos comprado o kit de primeiros socorros, ui). O Nano e o Pablo checando o carro, procurando um barulhinho que tinha começado um pouco antes, daqueles que tira um pouco a paz. Seguimos viagem até San Ignácio onde paramos para conhecer as Ruínas Jesuíticas. Valeu muito, lugar lindíssimo, com uma energia muito boa, é louco ficar imaginando como eram as pessoas que levantaram tudo aquilo, como eles viviam...dá pra sentir. É o nosso segundo Patrimônio da Humanidade nesta viagem. Almoçamos Ruffles, Baconzitos e Coca no carro mesmo, às 13:30hs. para não perdermos tempo, certos de que no final da tarde acharíamos um churrasco legal para comer....Àhhh se soubéssemos. Retas, retas e mais retas, eu até sabia que era assim, mas não imaginava que já aqui em cima não havia infra-estrutura na estrada. O Sol estava escaldante, as ilusões de ótica atrapalhavam muito nas ultrapassagens e como descobrimos que o carro está meio “bobo” (apesar do alinhamento/balanceamento) não tive coragem de “chinelar” e fui entre 110/120km o que nos atrasou um pouco. Quis dirigir até cair a noite porque depois não enxergo mais, minha meta então era Paso de Los Libres onde pretendíamos “almoçar”...que ilusão, não tem nada em lugar nenhum, a não ser pela vegetação, é um deserto. Em Paso escureceu e eu entreguei os pontos, o Nano pegou e continuamos procurando um “comedor”. Achamos um posto com lanchonete, onde fomos muito mal atendidos, tinha vários tipos de lanches no cardápio, mas ela simplesmente “não podia fazer”, então comemos uma coisa parecida com uma torta, nem folhada, nem normal, “helada”, horrível. Seguimos viagem com a informação que Paraná estava a 200km, mas eram 300 e tantos. Chegamos às 0:00hs, rodamos até a 1:00hs procurando hotel e tentando ligar para o Brasil...em vão. Conseguimos achar um pulgueiro, pelo absurdo de 150,00 A$ que, negociando caiu para A$ 120,00.

P.S: Pai, fica tranqüilo, o “barulhinho” do carro não era no carro, era na pista!

30/08/08 (Sábado) – Foz do Iguaçu / Ciudad Del Leste – 44 km







Resolvemos ficar por aqui para conhecer/rever as Cataratas, o que foi melhor, porque depois do jiraia dirigir 1060km, o pescoço e o joelho dele travaram (você não é mais um menino, lembra?). Acordamos 07:30hs, aproveitamos um bom café do hotel (antes do famosíssimo desayno argentino: Café com Leche e Media Lunas, to ferrada), saímos em direção as Cataratas...Eu não me lembrava de nada, então foi como se fosse a primeira vez, o Pablo lembrava um pouco e o Nano não conhecia. O melhor de tudo, sem dúvida, é a Garganta do Diabo, afinal, quem está nas Cataratas é pra se molhar! Nada de capa de chuva, coisa de fresco, o bom mesmo é se ensopar, tomar aquela água toda na cara (que minha vó não leia isso), descarregar a energia negativa, tirar a nhaca, lavar a alma! Depois almoçamos em Foz e decidimos nos aventurar no Paraguai. A aventura de 3 países se transformou em 4. Deixamos o carro num estacionamento perto da fronteira e atravessamos a pé. Áh, meninas, pra quem curte uma 25 de março, aquilo é um paraíso...e um inferno! Mas como férias é férias! E tudo é divertido...foi bem legal. Umas comprinhas bobas (ficamos com medo de comprar coisas mais caras e ter problemas na Receita, não sabíamos como funcionava a coisa). Foi bom para o Nano ver aquela muvuca toda...motoqueiros enlouquecidos, cruzamentos sem nenhuma sinalização com todas as “mãos” possíveis, quase fomos atropelados “algumas vezes”...acho que agora ele não repete 200 x por dia que SP é um lixo (tem pior, ta).
Voltamos ao hotel, muito cansados para sair para jantar e resolvemos estrear nossa cozinha portátil...rendeu deliciosos lanches de calabreza e um cheiro maravilhoso que ninguém podia sentir...ui!
Terminamos o dia assim...eu aqui atualizando o blog, o Nano e o Pablo jogados no sofá da recepção assistindo um filme com os olhos semi fechados. Amanhã: Argentina!

P.S: MÃE, FELIZ ANIVERSÁRIO!!! Perdoe por não estarmos aí...divirta-se, por favor...Seus 3 mosqueteiros estão muuuuito bem!


29/08/08 (Sexta) – São Paulo / Foz do Iguaçu – 1059km





O relógio gritou às 05:40hs, estava uma ventania lá fora, assobiando pela janela, balançando as árvores, levei um susto, não sabia se estava em Ushuaia ou dentro de uma barraca voadora no Torres...ainda no transe das minhas 02:30hs. de sono. O jeito é pular da cama pra terminar o “1%” que faltou....e que 1% hein! Mais parecia 100, isso sim! Essa coisa toda não tem fim, parece que a gente nunca vai conseguir sair de casa. Também tivemos que mudar o horário de saída, pois não conseguimos pegar meu remédio no dia anterior.
O Sr. Logística é ótimo com as caixas, mas com bagagem....afeee....depois de tomar uma surra das malas, tirei tudo do carro e com jeitinho feminino coube “tudo”!
Presos no trânsito de SP ainda tive que agüentar o Sr. Mau Humor e com muito custo conseguimos pegar estrada lá pelas 09:30hs...agora sim, todo mundo alegrinho.
A Castelo é ótima, depois um trecho da Eng। João B। Rennó é bem meia boca, e o pior são todas as cidades que tivemos que passar por dentro, perdendo muito tempo com congestionamento, faróis, muvuca, etc. A paisagem é bem legal, muitos canaviais, moinhos, vales e mais vales. A partir de Maringá a estrada melhora, sem passar muito por dentro das cidades. E, finalmente, depois de 1.059km (eu chutei 1.060, desculpe hein Nano) estamos aqui largados na cama do hotel, exaustos e felizes. O Nano estava virado no jiraia e insistiu em fazer “tudo” sozinho. Não acho que valeu muito a pena porque no final o Sr. Mau Humor voltou (quem conhece sabe do que estou falando), mas, enfim, conseguimos atingir a primeira meta!

Não pensamos ainda o que vamos fazer amanhã....agora, só pensamos em cama.

28/08/08 (Quinta)– No caos de São Paulo

Primeiro dia de férias e nenhuma moleza. Pulamos às 6:30hs da cama e mãos à obra...pés, pernas, braços, tudo...Nossa, que correria! Inocente de mim achar que, um dia antes da viagem seria suficiente para resolver as pendências. Não paramos nem por um minuto, chegamos em casa 21:30hs. para “começar” a arrumar a malas (quer dizer, eu né, porque o Nano ainda saiu pra resolver outras coisas). 22:45hs. paramos para ir até a casa dos meus pais nos despedir, ainda comemos pizza, conversamos sobre a viagem...De volta para minha lida, empurrei o Nano para baixo do chuveiro e fiz ele dormir no sofá (nossa cama nem se via de tanta bagunça). Como é difícil fazer mala associando otimização de espaço e otimização de “calor”, cada malha, cada jaqueta que deixei para trás foi com dor no coração. Depois de 99% pronto, sucumbi, decidi parar e descansar um pouco. Meu “pré trip nada fácil acabou às 03:10 hs., depois de um belo banho e nem sequer um fio de cabelo que não doesse....hummm cama...e quem disse que eu conseguia dormir?
Fernão, o “Magalhães”, português nascido em Trás-os-Montes, a serviço do Rei da Espanha e a bordo da “Trinidad”, em 1519 comandou a primeira expedição que daria a volta ao mundo, onde, na América do Sul descobriu a passagem que leva seu nome, o “Estreito de Magalhães”...Hoje, 489 anos depois, Francisco, o “Chicão”, filho de pai português, nascido em Trás-os-Montes, a serviço da Isabela e do Pablo, descendentes do Rei da Espanha e a bordo da “Catarina”, comanda a expedição que pretende levá-los até o fim do mundo...que seja só a grande primeira de muitas, Amém!!!