12/09/08 (Sexta) – El Calafate

























































































































Acordei no meio da noite com mal estar e não conseguimos sair muito cedo, então optamos por ficar em Calafate mesmo e conhecer o Glaciar. Foi um dia tranqüilo, acima de tudo de reflexão, introspecção, pelo menos pra mim. Uns 90 e poucos km de Calafate e se chega ao Parque Los Glaciares, mais alguns km dentro do parque, estradinha de rípio e numa das curvas têm-se a primeira visão dele. Apesar de tudo de bom que está acontecendo, não estávamos nos nossos melhores dias, talvez eu estivesse sentimental demais, sei lá, mas me deu o mesmo nó na garganta que tive quando atravessamos os Andes pela primeira vez e quando atravessamos as estepes patagônicas...um sentimento de grandiosidade de Deus e gratidão. Ficamos horas nas plataformas contemplando o Gigante, às vezes quase sem respirar, esperando que um pedaço minúsculo de gelo se despreênde-se e ecoasse àquele som estrondoso como um trovão. Chegamos no hotel à noitinha e a malvada enxaqueca não me largava, eu estava estragada, não dava pra pensar no blog.

11/09/08 (Quinta) – Comodoro Rivadavia / El Calafate – 1001km











Assaltaram nossos pobres pesinhos no hotel de Comodoro, nada incluso no valor que já era alto. Saímos cedo e pelo menos não estava chovendo, apesar da ventania. Meu objetivo era El Chalten, mas suspeitava que não conseguiríamos chegar no mesmo dia pois, eram 1200km, sendo 200 de rípio. O tempo e o dinheiro começam a me preocupar. A viagem correu sem novidades, consegui revezar com o Nano que, desde que a Catarina deu problema, não me deixou mais dirigir, mas percebi que ele estava chegando à exaustão e dei um ultimato...como sempre muito deserto, vento e sol. Prevendo que, não alcançaríamos Chalten nesse dia, colocamos La Esperanza como meta, assim, no dia seguinte, ficaria um trecho curto de pavimento + 200km de rípio. El Chalten é uma cidadezinha considerada a capital mundial do trekking, ou seja, é só o que há para se fazer lá...isso me preocupava, a logística não estava boa, chegaríamos no meio do dia e não tínhamos tempo para ficar, teríamos que chegar, fazer uma trilha qualquer e no dia seguinte partir para Calafate. Mesmo que rápido, eu não queria deixar Chalten. No caminho, fomos reparando que as cidades “anunciadas” nas placas não passavam de meia dúzia de casas, algumas nem chegavam a ser uma vila. Paramos em Três Cerros para “almoçar”, a cidade É um posto de gasolina com um hotelzinho anexo. Por incrível que pareça, nesse fim de mundo, no meio do deserto, tinha umas pizzas velhas que ficam expostas e uns fazendeiros na lanchonete do posto usando notebook com internet wi-fi. Depois de comermos as deliciosas pizzas esturricadas (um banquete perto daquele lanche tripa horrível) seguimos pelo deserto e as cidadezinhas de meia dúzia de casas iam diminuindo cada vez mais, mas como “La Esperanza” é a última que morre, tínhamos fé em encontrar alguma infra-estrutura. E era enorme! Um posto, uma lanchonete e um hotel anexo à lanchonete! Descemos do carro e tocava um rock numa caixa de som que ficava pra fora da lanchonete, quando entrei me senti dentro de um filme americano que se passa na rota 66. No canto uma junkebox, atrás do balcão duas moças com traços fortes de lápis nos olhos e uns gordos, carecas e rockeiros. Nós éramos os forasteiros e o centro das atenções...daí o Pablo resolve jogar uma conversa na “garota” do careca e como não podia deixar de ser, rolou o maior quebra pau! Cadeira e mesa voando pra tudo que é lado, sobrou até pra um vôzinho que estava sentado na porta mascando um matinho. Eu pulei nas costas do gordão careca e lhe dei uma bela chave de pescoço, ele girava que nem um touro mecânico e eu lasquei uma mordida na orelha dele....tá, tá, tá, tudo mentira, era só pra fechar a cena do filme, foi mal...rs...na verdade, o máximo que falamos foi “tienes triplo?” e a mocinha nos levou para conhecer o resort....afeee...que medo! Não dava. Ainda tinha um daqueles aquecedores à gás, que mata os casais abraçadinhos durante a noite, não, definitivamente não dava! Mudanças de planos enquanto eu olhava para o foguinho do aquecedor...a cidade mais próxima era El Calafate, 100 e tantos km, talvez de rípio, eram 18:00hs, ainda tinha um pouco de sol...enfim, vamos arriscar! Vamos para Calafate depois eu penso o que fazer com Chaltén, chegaremos tarde e cansados, mas com certeza conseguiremos um lugar melhor pra dormir. Inclusive, nem abraçadinhos poderíamos inalar o gás, eram 2 beliches. A moça confirmou que dali pra frente era tudo rípio...Era o caramba! Fomos até Calafate super bem! Tudo pavimentado, estrada boa, cidade linda, hotel maravilhoso, com vista para o Lago, tudo incluso, mais barato que o “cafofo do aquecedor à gás” e não demoramos para encontrar. Mas eu estava bem no meio de uma crise de enxaqueca, não conseguia pensar em mais nada à não ser ficar paralisada no escuro.

10/09/08 (Quarta) – Bariloche / Comodoro Rivadavia – 840km










































































































Estou em atraso com o blog. Difícil lembrar até do que comi no café da manhã com tanta coisa acontecendo, dois, três dias então, piorou...Enfim, me lembro que nesse dia acordei com a sensação que todo sedentário tem depois do primeiro dia de academia, dor por todo lado, eu travei. No café da manhã, pensava na bio-mecânica da queda do Pablo (uma que ele caiu de cara e entrou muita neve pelo nariz...rs...já contei?) e cheguei à conclusão que seu grande hematoma na cintura não tinha nada a ver com isso e sim, com o dia anterior, quando ele e o Nano foram brincar de gangorra num tronco velho, pulando em pé, cada um numa ponta e....claro, o pedaço do Pablo quebrou (tudo acontece com ele), foi um tombo e tanto. Estava meio desanimada porque tinha decidido realmente deixar a inóspita Ruta 40 (meu sonho) para quando estiver com tração nas 4...depois do problema da Catarina, não dava pra arriscar. Eu achava que esse dia seria meio chato, não me animava o caminho que iríamos percorrer...meu destino seria El Chaltén e sabia que teríamos que dormir no meio do caminho. Me surpreendi! A viagem foi demais! Pegamos um pedaço da 40, pavimentado, mas muuuuito deserto! Por um bom tempo acompanhamos os Andes de um lado e deserto do outro. O frio e o vento eram absurdos, apesar do Sol. Como sempre, tentamos encontrar um almoço descente, em vão. Às 15:00hs. paramos num posto mesmo e também como sempre, só o que tinha eram àqueles lanches “tripas” (dessa vez em formato de triângulo, imitando um lanche natural)....argh! Que nojo, não desce mais pela minha guela. Tentei comer um salgadinho que comprei ainda quando não sabia o que era “jámon”...argh! Não desce, melhor ficar sem comer. Eu e o Nano ficamos no carro esperando o Pablo e lembrando das comidas da minha mãe...arroz de forno...hummm...e aquele frango no creme de cebola hein? (dizia o Nano engolindo seu lanche tripa gelado horroroso)...hummm. Estávamos cortando a Argentina pelo meio e eu achava que sempre descendo, mas o Nano insistia que estávamos subindo...até que percebemos estar quase na altura das nuvens, inclusive, uma delas, bem enorme e bem preta vindo na nossa direção. O formato era mesmo de um tufão, furacão, sei lá como chama. Imagina, a gente vai passar batido, ela ainda está longe...ãhhã! Nos pegou em cheio! Entramos bem no meio dela! No olho! Onde ficam girando as vacas, os carros e casas no alto! (Essa parte é mentira)...Mas que estávamos bem no miolo, no meio de uma chuva torrencial, isso sim. E o frio era tanto, que antes das gotas atingirem o carro e o solo, virava neve! Não estava nevando, estava chovendo e virando neve, foi louco...Bom, a maior parte da estrada é péssima! Foi uma viagem pelas crateras...Mas cruzar o deserto patagônico ouvindo o CD do nosso casamento, ficou eternizado. No caminho, muitas indústrias petrolíferas (é assim que se fala?), muitos caminhões e caminhonetes circulam nesse pedaço por causa dessas indústrias. Pegamos todo o tipo de tempo, sol, chuva, neve, frio, calor, vento e chegamos à Comodoro embaixo de muita chuva e vento. A cidade tem uns 4 hotéis, dois de luxo e que não tinham vaga...descobrimos que os funcionários dessas indústrias vêm pernoitar em Comodoro, só dava eles nos hotéis nas suas Hilux. Rodamos muito, o carro balançava com tanto vento, eu não tinha comido nada o dia inteiro, minha cabeça explodia numa nova crise de enxaqueca...eu já tinha certeza, aquela seria nossa primeira noite no carro. Achamos um pulgueiro de caminhoneiros (quase pelo mesmo preço do hotel chique de Bariloche), mas o Nano não aceitava de jeito nenhum que ficássemos ali. Achamos um meio termo, tinha vaga, mas não dava pra acreditar no valor, uma diária era o equivalente à 3 de hotéis bons que ficamos em outras cidades, sem desayuno. Ele decidiu que ficaríamos ali, que facada. Desde essa noite comecei a não dormir direito e não conseguir comer. A ventania era desesperadora, dava a impressão que o teto do hotel sairía voando a qualquer momento, com a gente atrás...que cidadezinha horrível.

P.S: Hoje já é dia 13! Atrasei tudo por vários motivos, a correria da viagem, problemas pessoais e por aí vai. A intenção era atualizar tudo hoje, postagens e fotos, mas é impossível já é meia noite, o dia foi absurdamente cansativo (por mais uma de nossas aventuras) e amanhã, pra variar, temos que sair cedo. Por favor! Não desistam! Qualquer hora eu consigo!